Baseado em fatos: a história da Cannabis

Baseado em fatos: a história da Cannabis

A cannabis tem uma das histórias mais espetaculares de todas as plantas. As culturas ancestrais a usavam para fazer cordas, papel e velas de barco. Médicos a usavam para tratar doenças e as religiões a usavam para se aproximar do divino ou afastar os maus espíritos. No post de hoje, vamos viajar no conhecimento e aprender um pouco mais sobre a história da cannabis.

Atualmente, milhões de pessoas em todo o mundo usam a maconha. Mas, como muitas das frutas e vegetais que consumimos, a cannabis começou como uma espécie selvagem, limitada a certas áreas do planeta.

Desde a descoberta da cannabis, os humanos espalharam a planta por todos os cantos da Terra e a domesticaram de uma forma incrível. Criaram híbridos e variedades diferentes e as usaram para criar medicamentos e materiais industriais.

A planta de cannabis originou-se como uma espécie selvagem, tornando-se rapidamente uma das ervas mais versáteis e controversas da história da humanidade. Era usada para fazer cordas, papel e velas de navios e barcos. A realeza usou a cannabis como medicamento para combater a dor. Os religiosos usaram suas propriedades psicoativas para se sentirem mais próximos de seus deuses.

Na era moderna, os pesquisadores descobriram a complexidade química desta planta. Os criadores (breeders) desenvolveram variedades de cannabis com quantidades muito maiores de canabinoides e terpenos do que suas ancestrais selvagens. Milhares de pessoas estão atualmente presas simplesmente por estarem portando ou cultivando maconha.

Não há dúvida de que a cannabis teve um impacto significativo na cultura humana nos últimos milhares de anos. Então, vamos ver exatamente de onde vem a cannabis, como ela se espalhou pelos países e como essa planta popular é considerada pelo mundo atual.

A origem botânica da maconha

Você provavelmente já desfrutou dos efeitos da planta dezenas de vezes, mas o quanto você realmente conhece sobre a maconha?

Além de explorar a fisiologia e a biologia das diferentes espécies, os botânicos realizam uma taxonomia para analisar as características das plantas e classificá-las em famílias. Além disso, estão sendo feitos estudos de paleobotânica, ou seja, o estudo de fósseis de plantas.

Esses dois ramos da botânica ajudam a estabelecer as origens de certas espécies de plantas. Quando se trata da maconha, os pesquisadores desenvolveram uma imagem detalhada da árvore genealógica da planta.

A classificação oficial da cannabis ocorreu há relativamente pouco tempo. Em 1753, o botânico e zoólogo sueco Carl Linnaeus classificou a erva como “Cannabis sativa L” (L de Linnaeus). Ele escolheu esse nome porque descrevia as características físicas da planta; a palavra “cannabis” significa “semelhante à cana”, enquanto “sativa” significa “plantada ou semeada”. Na época, Linnaeus acreditava que esse gênero incluía apenas uma espécie.

Em 1875, Jean-Baptiste Lamarck (naturalista francês e biólogo evolucionista) questionou essa opinião com base em novos espécimes da planta da Índia. Lamarck chamou essa nova versão da planta de “Cannabis indica” e afirmou que sua fibra era de qualidade inferior à da sativa, mas seu perfil psicoativo era mais forte.

Ao longo dos séculos seguintes, vários botânicos se esforçaram para classificar a cannabis em outras subespécies. Mas essas diferenças mínimas criaram linhas borradas com as quais outros discordaram. Na década de 1970, o botânico de Harvard Richard E. Schultes e os professores William Emboden e Loran Anderson estabeleceram as principais diferenças estruturais entre três subespécies óbvias: sativa, indica e ruderalis.

Atualmente, essas três categorias são amplamente reconhecidas. Você encontrará esses nomes ao examinar qualquer banco de sementes. Cada uma dessas subespécies oferece algo ligeiramente diferente para o cultivador no que diz respeito a tamanho, rendimento e taxa de crescimento.

Mais recentemente, durante a década de 1980, os pesquisadores colocaram a cannabis na família Cannabaceae. Este grupo contém 170 espécies, incluindo lúpulo, que são os cones cheios de terpeno usados ​​para dar sabor à cerveja.

De onde veio a maconha originalmente?

Antes de nos aprofundarmos na história da cannabis em várias civilizações, devemos primeiramente mencionar como a planta surgiu. Atualmente, as origens geográficas exatas da maconha ainda são controversas. Mas algumas evidências convincentes apontam para três regiões principais.

  • Ásia Central

Em 1950, o autor R.J. Bouquet afirmou, por meio de seu estudo histórico da cannabis, que esta planta se originou na Ásia Central. Ele escreveu que as regiões atuais do Cazaquistão, Mongólia, noroeste da China e extremo leste da Rússia poderiam constituir esse possível local de origem.

  • Índia

Dois outros pesquisadores concordaram com uma teoria ligeiramente diferente. Embora concordassem que a Ásia Central desempenhou um papel como o berço da maconha, Hooker e Vavilov empurraram os limites até o ponto de origem da maconha.

Hooker observou que a cannabis cresceu selvagem nas montanhas do sudoeste do Himalaia. Vavilov também considerou que a planta possivelmente se originou no noroeste da Índia, incluindo Punjab e Caxemira, bem como no Afeganistão, Tajiquistão e Uzbequistão.

  • Tibete

Apesar dessas teorias bastante corretas, pesquisas mais recentes sugeriram uma origem muito mais confiável para a maconha. John McPartland (um lendário pesquisador da cannabis do Reino Unido) publicou um artigo na revista “Vegetation History and Archaeobotany” localizando a origem da cannabis no alto do planalto tibetano.

Mas por que sua conclusão se destaca das demais? Porque é baseada em uma grande quantidade de evidências físicas.

Este planalto elevado, localizado a 3 quilômetros acima do nível do mar, pode parecer um lugar improvável para o surgimento da cannabis, mas é exatamente para onde os dados levaram McPartland e sua equipe de pesquisa.

Eles começaram a vasculhar toneladas de estudos científicos para identificar sítios arqueológicos e geológicos onde outros pesquisadores haviam encontrado pólen de cannabis. Depois de analisar os dados, eles descobriram que a presença mais antiga de pólen de cannabis apareceu no norte da China e no sul da Rússia.

Eles concluíram que a cannabis provavelmente se originou perto do lago Qinghai no planalto tibetano, cerca de 28 milhões de anos atrás. Nesse ponto da história, a cannabis provavelmente cresceu de um ancestral comum compartilhado com a planta do lúpulo.

Dessa região, a cannabis se espalhou naturalmente para a Europa há cerca de 6 milhões de anos, e para o leste da China há cerca de 1,2 milhão de anos. O pólen da cannabis apareceu na Índia mais recentemente, cerca de 30.000 anos atrás.

A história do uso ancestral da maconha

Agora você conhece a taxonomia e as possíveis origens da maconha. Daqui pra frente, vamos nos aprofundar no uso da cannabis ao longo da história antiga. E então daremos uma olhada em como nosso relacionamento com a erva mudou nos últimos tempos.

Republica Checa

A região agora conhecida como República Tcheca pode ser o lugar com o uso mais antigo da cannabis na história da humanidade. As impressões de fibra em fragmentos de argila encontrados na região datam de cerca de 26.000-24.000 anos atrás.

Um dos maiores especialistas mundiais em tecnologia de fibra pré-histórica afirmou: “as estampas foram criadas a partir de tecidos de fibra de plantas selvagens, como urtiga ou cânhamo selvagem (uma variante fibrosa da cannabis, com baixo teor de THC), que foram acidentalmente preservados”. No entanto, até que mais evidências apareçam, o material vegetal usado pelos ancestrais para criar essas impressões continua sendo especulação.

China

Dado que a cannabis quase definitivamente se originou na Ásia Central e no Tibete, é lógico que o primeiro registro verificável de uso humano dessa planta veio de regiões próximas. Os arqueólogos descobriram o uso de fibras de cânhamo na ilha de Taiwan (localizada na costa da China) de cerca de 10.000 anos, durante a Idade da Pedra.

Aqui, as pessoas usavam cordas de cânhamo para decorar potes de barro úmido enquanto o material secava. Além dessas descobertas, os pesquisadores encontraram ferramentas relacionadas ao processamento de fibras de cannabis.

  • A cannabis e a indústria chinesa

Na antiguidade, os chineses também usavam o cânhamo para fazer suas roupas. Esta planta alta e muito útil permitiu-lhes parar de depender de peles de animais.

Além de usar cânhamo em suas vestimentas cotidianas, o Livro dos Ritos (escrito por volta de 200 a.C.) indicava que as pessoas deveriam usar roupas feitas de cânhamo durante os períodos de luto.

Mas o uso desta planta não se limitou a meras roupas. Eles usaram o cânhamo para fazer cordas, redes de pesca e papel para documentar sua história, filosofia e poemas . O cânhamo aparece em muitos exemplos importantes na literatura chinesa entre 475-221 a.C., incluindo as obras filosóficas de Confúcio e a poesia clássica.

Alguns séculos depois, por volta de 200 d.C., o antigo Dicionário Shuowen expôs o conhecimento chinês sobre a cannabis. Este antigo livro reúne o conhecimento dos aspectos masculino e feminino da cannabis, sugerindo que eles conseguiram identificar essas diferenças com base na produção de flores e pólen.

  • Cannabis e medicina chinesa

A maconha também desempenhou um papel fundamental no antigo sistema médico chinês. Documentos indicam que a cannabis foi usada na medicina chinesa por cerca de 1.800 anos. Esses textos indicam que eles usaram quase todas as partes da planta para fazer seus preparativos, incluindo as sementes, folhas, raízes, caules e flores (ou frutos).

Na China, o poder psicoativo da cannabis também foi aproveitado ao longo da história. O taoísmo começou a se espalhar pela região por volta de 600 a.C., um sistema de crença que afirma que os humanos devem se esforçar para viver em equilíbrio com a natureza e o universo. No início, foi considerado pecado alterar a consciência usando cannabis.

Mais tarde, durante o século I d.C., os taoístas começaram a mergulhar na alquimia e na magia, e os efeitos da cannabis se tornaram um meio interessante de acessar o sobrenatural.

Japão

A cannabis existe no Japão desde o Neolítico. As pessoas dessas terras começaram a usar o cânhamo durante o período Jomon (14.000-300 a.C.), quando viviam como caçadores-coletores e surgiram os primeiros fazendeiros. Este período da história japonesa é caracterizado pelo boom da cerâmica. Muitos artefatos foram decorados com cordas fibrosas, muito provavelmente feitas de cânhamo.

O cânhamo também era usado para produzir roupas e cestos. Arqueólogos encontraram prova disso depois de descobrir sementes de cannabis em sítios pré-históricos na ilha de Kyushu.

Também se acredita que as sementes de cânhamo eram consumidas como fonte de alimento nessa época. As primeiras sementes de cânhamo, junto com o cultivo de papel e arroz em campos inundados, provavelmente chegaram ao Japão importadas da China. Depois de passar pela Coreia, as sementes seguiram pelo canal até Kyushu.

Outro indicador importante de que o cânhamo estava presente durante o período Jomon é uma pintura rupestre. A peça colorida encontrada na costa de Kyushu retrata plantas de cânhamo altíssimas, com suas inconfundíveis folhas verdes em leque.

A religião japonesa Shinto (Xintoísmo) também usava a planta de cannabis. Os sacerdotes agitavam pacotes de gravetos de maconha, acreditando que isso abençoaria seus seguidores e afastaria os espíritos malignos.

Índia

A cannabis desempenhou um papel fundamental no antigo sistema de fé e medicina na Índia e hoje ainda está presente em algumas práticas espirituais. O hinduísmo apareceu pela primeira vez no vale do Indo, próximo ao atual Paquistão, entre 2.300 e 1.500 a.C.

Os textos sagrados desta religião são compostos de quatro Vedas, ou Livros do Conhecimento. Em suas páginas, os autores destacam cinco plantas sagradas; a cannabis faz parte desse panteão, com um suposto anjo da guarda em suas folhas. Os livros descrevem a maconha como um libertador e fonte de felicidade, que foi dada aos humanos para ajudá-los a superar o medo.

  • A lenda de Shiva

Até os deuses da religião hindu consomem esta erva. Os hindus acreditam que Shiva é o terceiro deus de seu triunvirato, e há uma lenda que fala da época em que ele usava cannabis para se reenergizar.

Exausto após uma discussão com sua família, Shiva desmaiou sob uma certa planta. Ao acordar, ele provou as folhas e se recuperou instantaneamente. Depois disso, ele recebeu o título de Senhor do Bhang.

Bhang é uma mistura de cannabis, leite, açúcar e outros vegetais, produzindo uma alta intensa (como comestíveis de maconha) que dura horas. Esta bebida desempenhou um papel especial na cultura indiana, especialmente durante os casamentos, onde ajudou a afastar os maus espíritos. Nas casas, uma xícara de bhang também era oferecida aos convidados como um ato de hospitalidade.

A casa do charas

O charas têm sua origem no vale de Parvati e na Caxemira. Esses extratos de alta qualidade são obtidos quando os cultivadores de maconha esfregam resina fresca entre as mãos para formar uma densa bola de tricomas conhecida como bolas do templo.

Os santos homens usam maconha

Os Sadhus também ocupam um lugar importante na história da cannabis na Índia. Esses devotos seguidores de Shiva dedicam suas vidas à sua fé. Sendo ascetas, os sadhus se abstêm de riqueza material, família e sexo. Este modo de vida se originou no século 8 d.C. e ainda está em vigor atualmente. Os devotos usam cannabis para facilitar a meditação.

Pérsia

Em seu auge, o Império Persa abrangeu uma área que incluía os atuais Irã, Egito, Turquia e partes do Paquistão e Afeganistão. Também conhecido como Império Aquemênida, esta civilização durou durante o período de 559-331 a.C.

Zoroastrismo

A fé zoroastriana, fundada pelo filósofo Zoroastro, tornou-se a religião oficial da região. Antes de o Islã se espalhar para a área, os sacerdotes zoroastrianos usavam cannabis em rituais, e seus hinos até expressavam a importância de proteger a “planta sagrada”.

Era islâmica

Mais tarde, no século 13, o haxixe se tornou uma substância popular na era islâmica. Os especialistas atribuem ao Sheikah Haydar, um santo sufi persa, o aumento da popularidade da cannabis na região.

Como seguidor do Sufismo (o ramo místico do Islã), Haydar levou um estilo de vida ascético. Até que ele descobriu a cannabis. A história conta que ele encontrou uma planta de maconha e decidiu experimentá-la. Após essa primeira experiência, passou a consumir a erva constantemente.

Mas, aos olhos de Haydar, o uso de maconha não era contra seu estilo de vida. Falava desta planta com veneração, afirmando: “Deus Todo-Poderoso concedeu-te, como um favor especial, o conhecimento das virtudes desta folha…”. Com o tempo, a cannabis se espalhou para a Síria, Egito e Iraque, onde as pessoas se referiam a ela como “a dama de Haydar”.

Citas

Você já ouviu falar dos citas? Se não, você vai pirar. Esses guerreiros eram caras durões que formaram uma cultura nômade e se tornaram mestres da equitação. Eles dominaram a estepe da Eurásia, uma vasta região de pastagens que se estende pela atual Hungria, Bulgária, Ucrânia, oeste da Rússia e Sibéria.

Guerreiros ferozes e o culto aos mortos

Esses guerreiros eram tão temíveis e eficazes que estabeleceram o padrão para os mongóis e hunos que se seguiram. Eles até serviram de inspiração para a cultura Dothraki (sim, aquela dos passeios a cavalo na série Game of Thrones).

Mas que lugar ocupa a cannabis nesta cultura milenar? A maconha desempenhou um papel importante no culto cita aos mortos. Após a morte e o sepultamento de seus líderes, os guerreiros citas tentaram se purificar montando uma estrutura semelhante a uma tenda e enchendo-a com fumaça de cannabis.

O antigo escritor grego Heródoto documentou esse ritual, afirmando: “… os citas pegam a semente do citado cânhamo, deslizam sob os dosséis de lã e, em seguida, jogam a semente nas pedras em brasa”, acrescentando: “os Citas transportados por esta fumaça, gritam”.

Os historiadores acreditam que provavelmente também colocaram flores de cannabis nas pedras para produzir esse efeito aparentemente psicoativo.

Grécia

A cannabis provavelmente chegou à Grécia antiga pelas mãos dos citas, que eram parceiros comerciais dessa cultura e até trabalharam como polícia mercenária em Atenas.

A cannabis apareceu pela primeira vez na Idade Clássica com Heródoto, mas naquela época essa cultura tinha pouco interesse na erva. No entanto, com o tempo, a planta se tornou uma parte importante de seu sistema medicinal e até mesmo de alguns cultos gregos.

A cannabis na medicina grega

A maconha ocupou um lugar importante na Farmacopeia Grega. Os médicos antigos usavam esta planta para tratar inflamação, inchaço e dor de ouvido. Também usaram as raízes, acreditando que poderiam tratar vários tipos de tumores.

O culto a Asclépio

Muitos santuários e templos dos tempos clássicos foram construídos em homenagem a Asclépio, o deus da medicina e da cura. Os historiadores acreditam que os seguidores do culto de Asclépio provavelmente usaram “fogo cita” como incenso durante seus rituais.

História recente

O conhecimento e o uso da cannabis permaneceram intactos ao longo dos séculos e até os tempos mais modernos.

No Brasil

1500: O cânhamo chegou junto com os portugueses, seus navios continham cordas, velas feitas da fibra da planta.

1549: Chegada do pango/limba/diamba/fumo de angola/maconha com escravizados trazidos da África

De acordo com o botânico Manuel Pio Correa a maconha chegou através dos escravizados de Angola (daí a palavra “fumo de angola”), eles escondiam as sementes nos poucos trapos que vestiam ou em pequenos bonecos (como os de voodoo) que traziam consigo.

Maconha na Grã-Bretanha

A Grã-Bretanha tem uma longa história com a planta cannabis. Arqueólogos encontraram evidências que apontam para seu uso industrial, e seu uso como medicamento também foi documentado.

  • O Cânhamo e a Marinha Inglesa

A humilde planta do cânhamo, na forma de cordas, provavelmente desempenhou um papel fundamental no sucesso da Marinha inglesa. Tornou-se um recurso tão importante que o rei Henrique VIII ordenou o uso da terra para o cultivo de cânhamo em 1533. Mais tarde, a rainha Elizabeth I exigiu que ainda mais cânhamo fosse cultivado e multava os agricultores que não cumprissem suas exigências.

  • Uso medicinal

A maconha reapareceu na Grã-Bretanha em 1842, pela mão do médico irlandês William Brooke O’Shaughnessy . Depois de estudar a planta em Bengala, enquanto trabalhava como oficial médico na Companhia das Índias Orientais, ele decidiu trazer parte dessa planta para a sede do império. Alguns historiadores acreditam que poucos meses após seu retorno, até mesmo a Rainha Vitória estava usando cannabis para tratar sintomas de estresse pós-menstrual.

Cânhamo na América do Norte

O cânhamo também era usado na América. Embora com o tempo a planta tenha sido demonizada e perseguida, ela desempenhou um papel importante na América do Norte por vários séculos.

  • A cannabis cruzou o Atlântico

As sementes de cânhamo chegaram pela primeira vez à América do Norte em 1616, no assentamento britânico de Jamestown, onde os fazendeiros cultivavam cânhamo para obter fibras para fazer cordas, roupas e velas de navios. O rei Jaime I exigia que cada proprietário cultivasse 100 plantas de cânhamo para exportação.

  • Os “pais fundadores” respeitavam a cannabis

Muitos dos pais fundadores dos Estados Unidos eram partidários do uso de cannabis. Até George Washington cultivava cânhamo em sua fazenda.

A proibição através dos tempos

Com o tempo, os governantes tiveram opiniões muito diversas sobre a cannabis. Embora alguns respeitassem e venerassem a planta, outros a detestavam. A maconha foi banida repetidamente ao longo da história. Aqui estão alguns exemplos.

  • Arábia

O primeiro relato da proibição da cannabis data de 1378. O emir de Joneima, Soudoun Sheikouni, baniu a maconha na região da Arábia que estava sob seu controle.

  • Madagáscar

O próximo caso de proibição ocorreu em 1787 na ilha africana de Madagascar. Quando o rei Andrianampoinimerina subiu ao trono, ele baniu a cannabis em todo o seu reino. Para garantir que seu povo obedecesse a essa ordem, ele aplicou a pena de morte para fazer cumprir sua lei draconiana.

  • Império francês

Napoleão proibiu o uso da maconha em 1800. Depois que suas tropas invadiram o Egito, ele testemunhou os efeitos da cannabis em seus soldados enquanto fumavam haxixe e bebiam bebidas com maconha. Temendo que isso diminuísse a eficácia de sua tropa, ele proibiu o uso de cannabis e fechou os pontos de venda que forneciam aos seus soldados.

  • Brasil

O conselho brasileiro aprovou leis contra a cannabis em 1830, no Rio de Janeiro. A lei estipulava 3 dias de cadeia para escravizados que fossem pegos consumindo o “pango”, enquanto vendedores brancos eram penalizados apenas com multa.

  • Império Otomano

O Império Otomano travou uma guerra contra o haxixe egípcio em 1877. O governo de Constantinopla (a cidade capturada após derrotar o Império Bizantino) ordenou que suas tropas destruíssem todo o haxixe egípcio.

  • Marrocos

Até o berço do melhor hash do mundo sofreu alguma forma de proibição. Em 1890, o sultão Hassan I impôs severas restrições ao cultivo da maconha, concedendo o direito de cultivá-la apenas a certas tribos.

  • Grécia

Apesar da importância da planta cannabis na história da Grécia antiga, em 1890 o governo grego proibiu o cultivo, importação e consumo de maconha.

Século XX

Embora seja apenas um pequeno episódio na relação entre humanos e cannabis, a proibição se espalhou para muitos países durante o século XX. Muitas dessas leis ainda sobrevivem de alguma forma até hoje. Estes são apenas alguns dos países que baniram a maconha durante este período:

  • Jamaica (1913)
  • Serra Leoa (1920)
  • México (1920)
  • África do Sul (1922)
  • Canadá (1923)
  • Panamá (1923)
  • Sudão (1924)
  • Líbano (1926)
  • Austrália (1926)
  • Indonésia (1927)
  • Reino Unido (1928)
  • Estados Unidos (1937)
  • Holanda (1953)
  • Nova Zelândia (1965)
  • Bangladesh (1989)
  • Polônia (1997)

Século XXI

No século 21, as coisas mudaram repentinamente. À medida que a ciência começou a desmantelar as propagandas que em grande parte levaram à proibição durante o século anterior, muitos países retrocederam e começaram a tornar a cannabis mais acessível a seus cidadãos. Os países que legalizaram a cannabis para fins medicinais ou recreativos, ou descriminalizaram a maconha, eles incluem:

  • Luxemburgo
  • Canadá
  • Portugal
  • Bélgica
  • Chile
  • Brasil
  • Áustria
  • México
  • Argentina
  • Dinamarca
  • Suíça
  • Itália
  • Alemanha
  • Grécia
  • Alguns estados dos EUA

A Ciência e a cannabis

Curiosamente, a maior parte da ciência pioneira que lançou as bases para nossa compreensão da planta ocorreu durante o período de intensa proibição do século XX. Embora as propriedades medicinais de toda a planta fossem conhecidas na antiguidade, os cientistas ocidentais conseguiram isolar os ingredientes ativos. Eles também começaram a investigar como a cannabis funcionava no corpo humano e rapidamente descobriram como moléculas como o THC interagem com o sistema endocanabinoide.

Aqui estão alguns dos principais eventos que nos levaram à nossa compreensão atual da cannabis e como ela produz seus efeitos fascinantes:

Início da década de 1930: um grupo de Cambridge liderado por Thomas Easterfield isolou o primeiro canabinoide na forma de CBN, um produto da decomposição do THC.

1940: o químico americano Roger Adams isolou o CBD pela primeira vez.

1964: Raphael Mechoulam e seus colaboradores foram os primeiros a isolar o THC.

1973: os pesquisadores confirmaram os efeitos de alteração da mente do THC em experimentos com animais e humanos.

Início da década de 1990: os pesquisadores descobriram e reproduziram os receptores que compõem o sistema endocanabinoide. Descobriram o receptor CB1 em 1990 e o receptor CB2 em 1993.

1992: foi descoberto o primeiro endocanabinoide conhecido pela ciência: a anandamida.

1995: Mechoulam e seus colegas identificaram um segundo endocanabinoide: 2-AG.

A era moderna

Atualmente, a maconha continua a se recuperar do tratamento draconiano que recebeu durante o século XX. À medida que nosso conhecimento científico sobre a planta aumenta, mais países estão legalizando a erva.

Os cientistas especializados na cannabis estão constantemente descobrindo novas aplicações médicas para a planta. Os pesquisadores estão examinando mais de 100 canabinoides e 200 terpenos presentes nos buds da maconha. A maioria desses fitoquímicos oferece benefícios por si próprios e também parecem ter um efeito sinérgico quando usados em conjunto.

Muitas mentes inovadoras estão dando continuidade ao trabalho de nossos ancestrais. Eles estão explorando os usos industriais do cânhamo: de um combustível ou um material de construção, a um recurso para limpar solos contaminados.

Origem da palavra cannabis

O nome da cannabis vem da palavra grega “κάνναβις” (kánnabis), que era originalmente uma palavra cita, e a palavra “cânhamo” também pode ser uma variante de um termo cita. Essas palavras citas passaram para as línguas indo-europeias. Em 1548, o Oxford English Dictionary registrou o primeiro uso da expressão “cannabis sativa”.

Origem da palavra marijuana

O nome “marijuana” ou “marihuana” para se referir à cannabis, tem uma etimologia mais popular. A palavra “marihuana” teve origem no México, entre nativos de língua espanhola, e está relacionada ao nome feminino de María Juana, mas ainda não sabemos a história da ligação entre isso. Durante a década de 1930, essa palavra foi exagerada pela imprensa norte-americana, para fazer a cannabis ter uma consonância estrangeira que a tornasse mais perigosa e, assim, distanciar o povo dos EUA dela. Outra teoria é que a palavra marijuana vem do termo chinês “ma”, usado para o cânhamo. Acredita-se que os exploradores chineses tenham chamado a flor da cannabis de “ma ren hua”, que significa flor de semente de cânhamo. Esta palavra pode ter sido escolhida pelos nativos da América que falam espanhol.

Origem da palavra maconha

A origem da palavra maconha vem do termo quimbundo “ma’kaña”, que quer dizer “erva santa”.

A maconha tem uma história rica e complexa. Esperançosamente, a humanidade moderna continuará a mover a cannabis para longe da proibição e em direção à liberdade. Esperançosamente, as gerações futuras lerão sobre o século 21 e como as pessoas daquela época se voltaram para a maconha para criar um mundo melhor.

Fontes Externas:

UNODC – Bulletin on Narcotics – 1950 Issue 4 – 002 https://www.unodc.org
Cannabis utilization and diffusion patterns in prehistoric Europe: a critical analysis of archaeological evidence https://www.researchgate.net
Cannabis in Chinese Medicine: Are Some Traditional Indications Referenced in Ancient Literature Related to Cannabinoids? https://www.ncbi.nlm.nih.gov
Shuowen jiezi 說文解字 (www.chinaknowledge.de) http://www.chinaknowledge.de
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Japanese History: Hemp in Prehistoric Times | Herb Museum http://www.herbmuseum.ca
Hempen Culture In Japan http://www.japanhemp.org
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Cannabis | Green Shinto http://www.greenshinto.com
Ancient Scythians spread the use of cannabis in death rituals https://www.digitaljournal.com
Luigi Arata, Nepenthes and cannabis in ancient Greece – PhilPapers https://philpapers.org
Cannabis in Ancient Greece – theDelphiGuide.com https://thedelphiguide.com
BBC News | PANORAMA | History of Cannabis http://news.bbc.co.uk
Cannabinoid pharmacology: the first 66 years https://bpspubs.onlinelibrary.wiley.com
Isolation and structure of a brain constituent that binds to the cannabinoid receptor | Science https://science.sciencemag.org
Identification of an endogenous 2-monoglyceride, present in canine gut, that binds to cannabinoid receptors – ScienceDirect https://www.sciencedirect.com
Taming THC: potential cannabis synergy and phytocannabinoid-terpenoid entourage effects https://www.ncbi.nlm.nih.gov
Hempcrete: Alberta company uses hemp to build tiny homes https://www.cbc.ca
Industrial Hemp’s Energy Potential – Biofuels – Hemp Gazette https://hempgazette.com
Industrial Hemp for Bioremediation | Florida Hemp Coalition https://floridahempcoalition.org

Referência de texto: Royal Queen

Conto Canábico: sobre maconha nos tempos da quarentena

Conto Canábico: sobre maconha nos tempos da quarentena

A velha subiu a rua reclamando, enquanto a água suja corria e manchava o piso, deixando lisas as pedras brancas. E a velha me abordou de surpresa, com sua voz de velha portuguesa, enquanto eu matava tempo no meio-fio. Perguntou de onde vinha a água e eu respondi que estavam limpando as escadas de algum prédio. A velha se incomodou, e falou que era um perigo lavarem as escadas, pois alguém poderia escorregar. Perguntei se ela morava no prédio em questão e ela respondeu que não, mas que achava necessário fazer a observação.

“Uma pena tudo isso” me disse a velha quando achei que nada mais ela tinha para falar. “O que é uma pena, minha senhora?” perguntei um tanto incomodado, pois não queria gastar a língua à toa. “A doença tá mal, tá tudo mal, isso é triste, ver a Itália na doença é triste” disse a velha como quem lamentava por um mundo inteiro. “Aqui em Lisboa também está muito mal. Se a polícia me vê livre pela rua ela logo trata de me levar de volta para casa”.

E eu que estava ali só esperando o amigo chegar com o boldo, me vi em uma realidade alternativa. A pandemia de Corona deixou todo mundo na nóia, pois todo mundo agora é alvo do vírus em questão. Não pode sair na rua, pois o vírus está a solto por aí, e se você é idoso, você é isca fácil do malandro. E com o estado de emergência de Portugal, velha que passeia pelo bairro, como se nada estivesse a passar, pode ser levada pela polícia por desobediência civil.

Rapaz, chegamos ao ponto mais fundo, onde, por causa de um vírus, uma idosa é considerada mais subversiva que um maconheiro esperando seu corre. Com essa mudança de pensamento, disse para a velha ir para casa, pois “viagem em carro de polícia não vale a pena, pois os caras tem mal gosto musical”. Mas a velha disse que estava na rua à procura de um homenzinho, e disse que só voltaria para casa quando achasse o homenzinho.

Então o amigo apareceu com o boldo, e a velha o abordou e perguntou se ele tinha visto um homenzinho por aí. Ele disse que não para a velha e depois perguntou de onde estava vindo a água que corria pela calçada. “Estão limpando as escadas de um prédio. Um perigo isso” disse a idosa. Olhei para o amigo e disse para irmos embora dali, pois pode pegar mal dois maconheiros serem vistos com uma idosa. E assim começamos a marchar de volta para Arroios, como duas pessoas comuns que só saíram de casa para comprar um produto de  necessidade básica.

Leia também:

Por Francisco Mateus
Ativista, escritor e jornalista

Estudo garante que a idade ideal para o uso legal de maconha é aos 19 anos

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Um relatório publicado no Canadá sugere que a idade para o uso legal de maconha deve ser de 19 anos.

Qual a idade suficiente para alguém usar uma substância psicoativa? Dependendo do país, cada um considera qual deve ser a idade legal para os jovens consumirem essa ou aquela substância. O álcool só pode ser consumido nos EUA por pessoas com mais de 21 anos. Em nosso país, a barreira é de 18 anos. Em Portugal ou na Áustria, 16 anos.

Apesar da suposição de que existem alguns critérios médicos por trás dessas decisões, não é muito claro que exista uma diferença real e substancial entre colocar uma barreira entre 18 e 19 ou mais tarde. Além disso, muitas vezes existem contradições, como se alguém é considerado adulto para beber e, em vez disso, pode dirigir com 16 anos de idade.

Um artigo publicado na BMC Public Health, uma revista com revisão por pares, traz à luz algumas conclusões propostas por um grupo de pesquisadores canadenses sobre qual deve ser a idade legal para o uso da maconha. Eles colocaram aos 19 anos. Segundo este relatório, 19 é uma boa idade para minimizar possíveis impactos na saúde em longo prazo, no nível educacional e no bem-estar mental. Coincidência ou não, 19 anos é a idade legal para o uso da maconha em quase todas as províncias do Canadá.

“Enquanto a comunidade médica recomendou uma EML (idade legal mínima) de 21 ou 25 anos com base em evidências neurocientíficas sobre os impactos adversos da cannabis no desenvolvimento cognitivo, isso leva a um grande mercado ilegal de cannabis”, comentam os autores do estudo. “Por outro lado, os encarregados de formular políticas decidiram por um EML menor, como 18 ou 19, para reduzir o tamanho do mercado clandestino, mas isso levanta preocupações sobre resultados adversos para os adolescentes. No entanto, seu estudo constatou que os resultados posteriores da vida associados ao primeiro uso de cannabis aos 19 anos são melhores do que aqueles associados ao primeiro uso aos 18 anos, mas não são significativamente diferentes daqueles usados ​​pela primeira vez entre 21 e 25”.

Fonte: Cáñamo

Na Alemanha, juiz questiona legalidade da proibição da maconha

Na Alemanha, juiz questiona legalidade da proibição da maconha

Se um tribunal alemão considerar que uma lei, cuja validade depende de uma decisão, é inconstitucional, suspende e solicita a decisão do Tribunal Constitucional Federal.

O Tribunal Constitucional Federal (BVerfG) recebeu uma proposta relacionada à proibição da cannabis. O juiz Andreas Müller, do Tribunal de Magistrados de Bernau, considera que a proibição da cannabis na Alemanha não é constitucional. Ele pretende provar isso perante o maior tribunal do país.

Müller, luta pela legalização da maconha há muitos anos. Ele ligou para a BVerfG em 2002 pedindo a um juiz para verificar se a proibição da maconha era compatível com a Lei Básica Alemã. Naquela época, porém, o BVerfG considerou que a apresentação do juiz era inadmissível. Isso se deve em parte ao fato de ter sido vinculada por uma decisão anterior e própria de 1994, em conformidade com a Seção 31 (1) da Lei do Tribunal Constitucional Federal (decisão de 29 de junho de 2004, Az. 2 BvL 8/02) Naquela época, o juiz de Bernau não apresentou nenhum fato novo “que pudesse permitir uma decisão que se desvia das conclusões anteriores do Tribunal Constitucional Federal”, disse em 2004.

O Tribunal Constitucional deve admitir esse novo recurso e, para o juiz Müller, terá que demonstrar que “novos feitos ocorreram desde 1994”.

Decriminalizações ou legalizações em Portugal, Uruguai, Canadá e vários estados dos EUA demonstram a Müller que a punição “não é necessária para alcançar objetivos como a proteção de menores”.

Relatório de 140 páginas

No prefácio de seu relatório de 140 páginas, o juiz Müller explica que “é imperativo que o Tribunal Constitucional Federal, que não lida com a proibição da maconha há mais de 26 anos, considere se a perseguição de milhões de pessoas na República Federal da Alemanha pelo consumo de cannabis está atualizado e se atende aos requisitos de uma sociedade livre e ao mandato da Lei Básica, em particular para proteger as minorias”.

O juiz Muller argumenta a existência atual de evidências de que a periculosidade da cannabis deve ser avaliada diferentemente da anterior; “A expressão mais clara e atualizada da reavaliação da periculosidade da cannabis é encontrada no Comitê de Peritos da OMS. Em 2018, publicaram um relatório crítico sobre a atual classificação da maconha”.

O juiz também acrescenta que “a suposição geral de que o uso de maconha causa uma deterioração na saúde mental” não foi comprovada.

Evidência de efeito prejudicial?

“Embora possa ser demonstrado que as pessoas mais problemáticas a usam com mais frequência, não é possível encontrar evidências de um efeito prejudicial da cannabis”, diz Müller. Além disso, deve-se notar que; “dados os milhões de usuários, relativamente poucos vão para ambulatório ou são hospitalizados devido a um diagnóstico relacionado à cannabis”.

Segundo o juiz do Tribunal de Bernau, a criminalização de cerca de quatro milhões de usuários de maconha na Alemanha não só viola muitos dos direitos fundamentais das pessoas envolvidas, como o “direito à intoxicação”, conforme o artigo 2, seção 1 do Grundgesetz. “Isso também implicaria custos imensos para o Estado e a sociedade devido à natureza desproporcional das sanções penais”. Em várias páginas, Müller trata da relação entre maconha e álcool no aspecto da igualdade fundamental (artigo 3 do Grundgesetzf), com uma conclusão; “O tratamento diferente da cannabis do álcool deve ser considerado muito arbitrário”.

Hoje, a única possibilidade de descriminalizar a maconha reside no BVerfG. Nenhuma liberalização pode ser esperada do atual governo federal, pois o comissário federal das drogas rejeitou recentemente qualquer desejo de legalização.

Fonte: LTO
Referência de texto: La Marihuana

A Europa terá o maior mercado de maconha do mundo

A Europa terá o maior mercado de maconha do mundo

A Europa está a caminho de se tornar o maior mercado de maconha legal do mundo nos próximos cinco anos. O último relatório, publicado em Davos, prevê que o mercado europeu de cannabis legal terá um valor de 123 bilhões de euros até 2023.

Segundo o Relatório Europeu sobre a Cannabis, nos últimos doze meses, a indústria europeia de cannabis na Europa cresceu significativamente mais do que nos últimos seis anos. Seis novos países legalizaram a maconha para fins medicinais e mais de 500 milhões de euros foram investidos na indústria europeia de maconha medicinal. Esta é a quarta edição do grupo de pesquisa Prohibition Partners, especializado nos desenvolvimentos legislativos e nas principais tendências da indústria europeia da maconha.

O mercado europeu de cannabis legal está crescendo em um bom ritmo. A principal mudança centra-se no fornecimento de maconha para fins médicos. Pacientes europeus, políticos, investidores, empresários, cientistas e pesquisadores médicos podem se beneficiar das mudanças em curso.

Os três maiores mercados médicos da Europa hoje são a Itália, a Holanda e a Alemanha, com um total de 130 mil pacientes tratados com cannabis. O relatório prevê que esse número aumentará para 225 mil em 2019 e, em 2028, o mercado europeu geraria 58 bilhões de euros. Prevê-se que este número irá pelo menos duplicar após a legalização da maconha para uso recreativo. Até agora, Luxemburgo prometeu ser o primeiro estado europeu a introduzir a legalização da maconha para fins recreativos antes de 2023.

Em 2019, espera-se um grande aumento nos mercados alemão e italiano, agora atrás do mercado holandês. Segundo as previsões do relatório, até 2020 os dois países irão superá-lo. A Alemanha, a Itália e a Holanda estão desenvolvendo propostas para licenças de cultivo, tentando construir uma indústria nacional que atenda à demanda local em vez de depender do Canadá.

Países do sul da Europa, como a Macedônia, estão começando a desenvolver programas nacionais de cultivo para oferecer um produto barato disponível através de redes comerciais dentro da UE. Seu clima é ideal para o cultivo de cannabis ao ar livre. No total, existem 14 países europeus onde a maconha é legal de alguma forma, metade dos 28 países que compõem a União Europeia.

Harmonização da lei na Europa

Quase 50 países estão localizados no continente europeu, cada um com sua própria lei. O relatório confirma que pode haver vários desafios no caminho para a legalização europeia. As autoridades de todos os países e empresas envolvidas na modificação do regulamento devem chegar a um consenso sobre as disposições legais sobre cadeias de fornecimento transfronteiriças, padronização de produtos e acordos comerciais.

A Cannabis Europe organiza eventos que atraem muitas partes interessadas e importantes dentro da indústria europeia de maconha legal. No ano passado, seu primeiro evento aconteceu em Londres. No início de fevereiro, a conferência aconteceu em Paris, e o relatório contém algumas palavras sobre a França: “A França é um símbolo da hipocrisia da política da cannabis na Europa Ocidental. O governo francês manteve uma posição conservadora sobre a maconha medicinal e recreativa, embora a França seja um dos países onde o consumo de maconha é maior”.

A França não é o único país potencialmente prestes a mudar sua política. Parece que o governo e a opinião pública estão se tornando cada vez mais pró-cannabis. Isto é em grande parte devido ao crescente apoio social para a legalização. E quando os benefícios comerciais e sociais se tornam visíveis. Fatores como novas oportunidades de emprego, receita fiscal adicional, e redução do crime, juntamente com a capacidade de realizar ensaios clínicos maiores. Estes seriam a força motriz por trás do estabelecimento de um mercado legítimo de cannabis.

Grande aumento da maconha medicinal

Nos Estados Unidos e no Canadá, o investimento total em 2018 quadruplicou em comparação com o ano anterior. Os europeus não esperam um mercado recreativo semelhante no futuro próximo, exceto Luxemburgo. Mas um aumento significativo na indústria de maconha medicinal é esperado. No entanto, pesquisas confiáveis ​​e repetitivas serão cruciais para convencer os governos a introduzir reformas. Muitos deles contam com a alegação de que não há estudos suficientes sobre as propriedades medicinais da maconha e sua nocividade. No portal PubMed, no entanto, encontramos quase 30.000 estudos. Mais pesquisas foram feitas sobre a maconha do que sobre qualquer outra substância. Portanto, tais declarações expressam falta de conhecimento e disposição para aprofundar este tópico.

Os europeus esperam que os produtos de cannabis medicinal sejam regulamentados e padronizados. A próxima revisão sobre a cannabis pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Europeia (UE) pode levar a uma recomendação do seu estatuto legal.

A maconha vai melhorar a economia europeia

O mercado regulamentado da cannabis medicinal pode proporcionar muitas oportunidades econômicas aos países europeus. Este setor impulsionaria os países que mais sofreram com a recessão em 2008, como Espanha, Portugal, Itália e Polônia.

Também pode ser importante para a indústria agrícola enfraquecida de países como a Grécia e a Macedônia. As aplicações generalizadas para a legalização da maconha para fins médicos, combinadas com altas taxas de consumo, apontam para um mercado potencial de até 123 bilhões de euros até 2028.

Problemas de regulação

Atualmente, apenas o Luxemburgo tem planos específicos para um mercado legal de cannabis totalmente regulamentado. É um país pequeno, mas está em uma excelente localização perto da Bélgica, Holanda, Alemanha e França. Luxemburgo pretende legalizar o uso recreativo da maconha antes de 2023. E deve dar asas aos países vizinhos.

Quando se trata de questões relacionadas à cannabis medicinal, o principal problema na região parece ser a educação de médicos com o uso medicinal da erva. Enquanto a demanda por maconha medicinal está aumentando na Alemanha e na Itália. Embora não existam programas oficiais de educação para profissionais de saúde. Entre as observações mais importantes do relatório europeu sobre cannabis está a necessidade de uma educação rápida e credível ao coletivo de saúde.

Política pan-europeia da maconha

O debate sobre a cannabis já chegou à União Europeia no Verão de 2018, quando o Comitê de Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu pediu a Comissão Europeia para criar uma política pan-europeia da cannabis. Um movimento deste tipo por parte da Comissão Europeia seria um sinal para os Estados membros. Alguns estavam relutantes em agir, alegando obrigações para a Convenção Única sobre Entorpecentes. Estes estão seriamente desatualizados à luz das recentes mudanças globais na legislação sobre a cannabis.

Fonte: Fakty Konopne

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