por DaBoa Brasil | set 14, 2021 | Curiosidades, Saúde
As bactérias têm atormentado a humanidade por centenas de milhares de anos. Recentemente, descobrimos como combatê-las. Os antibióticos salvaram milhões de vidas, mas algumas bactérias encontraram uma maneira de se defender. Por isso, pesquisadores seguem procurando novas fontes de antibióticos, e alguns estão se voltando para a maconha.
Pense na sorte que temos na era moderna. É verdade que muitos de nós experimentamos estresse devido a prazos, contas ou estimulação excessiva. Mas muitas vezes consideramos que os humanos superaram os problemas que nossos ancestrais tiveram de enfrentar. A natureza é um ciclo de vida e morte; uma batalha contínua entre inúmeras espécies. Um de nossos inimigos mais antigos, a bactéria, pode ter nos matado no passado, mas agora temos sorte de poder tomar medicamentos que as matam.
Os antibióticos salvam mais de milhões de vidas por ano em todo o mundo. Mas os humanos não são a única espécie que se adapta e evolui; bactérias sofrem mutação e desenvolvem resistência aos medicamentos. Os cientistas estão atualmente procurando por novas fontes de antibióticos para lidar com essa grave ameaça, e alguns têm maconha em vista.
A importância dos antibióticos
Os antibióticos são uma arma crítica na batalha sem fim contra a vida microbiana. É verdade que nem todos os organismos microscópicos causam doenças; o intestino humano contém bilhões de bactérias, fungos e vírus que nos ajudam a digerir os alimentos e fortalecer nosso sistema imunológico. Mas muitas espécies de micróbios não agem de forma tão simbiótica com nosso corpo.
Existem inúmeras espécies e cepas de bactérias infecciosas. Esses organismos entram no corpo de várias maneiras, como pelo contato físico, pelo ar ou pela transmissão por gotículas respiratórias. Comer alimentos mal cozidos, por exemplo, costuma ser a porta de entrada para algumas espécies.
Essas infecções podem ocorrer em qualquer parte do corpo. Os sintomas podem ser causados pela própria bactéria ou pela reação do corpo à sua presença. As bactérias têm diferentes patogenias (potencial para causar doenças), e apenas uma pequena porcentagem das espécies causam infecções e doenças em humanos, mas muitas delas causam danos muito graves.
Todos os órgãos do corpo são suscetíveis à infecção bacteriana. As espécies que atacam as meninges (as membranas que protegem o cérebro e a medula espinhal) causam meningite. Aqueles que atacam os pulmões, pneumonia. O Staphylococcus aureus, que geralmente é encontrado na pele, pode entrar no corpo através de feridas e infectar as válvulas cardíacas e o abdômen.
Breve história de antibióticos
Felizmente, os antibióticos ajudaram a transformar infecções antes mortais em pequenos aborrecimentos. Durante a maior parte da existência humana, as doenças infecciosas ocuparam o topo da lista das principais causas de morte. O surgimento dos antibióticos nos forneceu uma arma muito eficaz contra esse inimigo invisível.
É sabido que os humanos usam o poder dos antibióticos há milênios. Na antiga Núbia sudanesa, traços do antibiótico tetraciclina foram encontrados em ossos humanos que datam de 350-550 D.E.C.
No entanto, a maioria das pessoas associa o surgimento desses antibióticos que salvam vidas com Alexander Fleming e o início da “era dos antibióticos”. Fleming descobriu a penicilina enquanto estudava a bactéria Staphylococcus. Depois de deixar uma placa de Petri cheia de bactérias perto de uma janela aberta, ele voltou e a encontrou contaminada com mofo. Esses fungos recém-chegados mataram as bactérias infecciosas.
Esta descoberta inovadora ocorreu em 3 de setembro de 1928, salvando 200 milhões de vidas.
Como funcionam os antibióticos?
Os antibióticos atuam de duas maneiras: ajudando a desacelerar as células (bacteriostático) ou matando-as (bactericida). Os antibióticos bacteriostáticos interrompem a atividade das células bacterianas, mas não causam sua morte. Basicamente, eles colocam em espera a sua capacidade de multiplicação, dando ao seu sistema imunológico uma boa chance de matar a infecção. Essas drogas atuam interferindo na replicação do DNA, no metabolismo e na produção de proteínas.
Os antibióticos bactericidas, por outro lado, matam as bactérias diretamente, evitando que formem uma parede celular, o que leva rapidamente à sua destruição. Os antibióticos penicilina são bactericidas, incluindo penicilina V para dores de garganta e amoxicilina para infecções respiratórias.
Os antibióticos também diferem uns dos outros com base nas espécies de bactérias que atacam. Alguns são conhecidos como “amplo espectro” e atacam inúmeras espécies, como as bactérias benéficas que estão presentes no intestino. Isso pode causar desequilíbrio do microbioma e problemas digestivos. Antibióticos de “espectro estreito” são mais seletivos nas espécies que combatem. Eles afetam apenas um ou dois tipos de bactérias, o que permite que muitos dos micróbios em nosso corpo permaneçam vivos.
- Bactérias Gram positivas X Gram negativas
Algumas bactérias são mais resistentes do que outras aos antibióticos e anticorpos gerados pelo nosso sistema imunológico. As bactérias se enquadram em uma de duas categorias: gram-positivas e gram-negativas. Esses nomes são derivados do teste de coloração usado para identificar diferentes espécies de bactérias.
A diferença entre esses dois tipos de bactérias está em suas paredes celulares. As bactérias Gram-positivas não têm uma membrana externa, mas têm uma parede celular complexa e uma espessa camada de peptidoglicano (proteína e carboidrato). As bactérias Gram-negativas, por outro lado, possuem uma membrana lipídica externa e uma fina camada de peptidoglicano. Como as espécies gram-negativas têm uma camada externa mais espessa, geralmente são imunes a antibióticos.
Embora o termo “antibiótico” signifique literalmente “contra a vida”, essas drogas funcionam apenas em uma categoria de micróbios: bactérias. Os antibióticos não protegem o corpo dos vírus por vários motivos. Os vírus devem entrar nas células hospedeiras para se replicar, e os antibióticos bacteriostáticos não atacam essas células. Em segundo lugar, os vírus não têm paredes celulares, de modo que os antibióticos bactericidas não têm onde atacar.
O que é resistência a antibióticos?
Os antibióticos salvaram milhões de vidas e continuam a fazê-lo. Mas as bactérias não esperam apenas. Como todas as outras formas de vida na Terra, elas são capazes de se adaptar a ameaças, superar desafios e garantir sua própria sobrevivência. Essa característica permite que algumas espécies desenvolvam resistência aos antibióticos. A origem desse problema está em um fenômeno que norteia o desenvolvimento de toda a vida: a seleção natural.
Como outros organismos, as bactérias sofrem mutações aleatórias; alguns deles são de natureza funcional, enquanto outros são completamente inúteis. No entanto, de vez em quando, ocorre uma mutação que melhora a capacidade de um organismo de se adaptar e sobreviver. Algumas bactérias desenvolvem mutações que as tornam mais resistentes aos antibióticos. À medida que as suscetíveis morrem, a bactéria com a mutação benéfica terá mais recursos e se multiplicará.
Um exemplo dessas mutações bem-sucedidas é a transformação de Staphylococcus aureus em MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina). Essa bactéria desenvolveu resistência à meticilina e à penicilina e continua construindo sua parede celular na presença desses antibióticos, graças a um ajuste genético.
A ameaça iminente de resistência aos antibióticos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a resistência aos antibióticos uma das principais ameaças à saúde global e ao desenvolvimento. Embora essa resistência apareça naturalmente, a OMS aponta o uso indevido de antibióticos, tanto em humanos quanto em animais, como um fator que tem influenciado esse processo. Como resultado, infecções como pneumonia, tuberculose, gonorreia ou salmonelas são cada vez mais difíceis de tratar.
As pessoas podem ajudar a conter esse fenômeno tomando apenas antibióticos prescritos por profissionais de saúde e se abstendo quando não precisam deles. Os profissionais médicos também podem ajudar a reduzir a taxa de resistência aos antibióticos, recusando-se a prescrever esses medicamentos em excesso.
Os pesquisadores também estão colaborando na busca de novas formas de antibióticos que eliminam as cepas mutantes. Mas onde os procuram? Alguns consideram a maconha uma possível fonte de antibióticos.
A maconha é um potencial antibiótico?
Como uma planta selvagem impede a mutação de bactérias? Em primeiro lugar, os antibióticos são derivados de fungos, que são um grupo de organismos naturais. Em segundo lugar, as plantas competiram com bactérias e outros micróbios em uma corrida evolutiva por milhões de anos; portanto, são muito eficazes na produção de moléculas que mantêm esses patógenos afastados.
As plantas são amplamente protegidas pela geração de metabólitos secundários. Essas moléculas não estão envolvidas no crescimento e desenvolvimento de uma planta, mas são uma espécie de arma química. As plantas de maconha possuem um grande arsenal, pois produzem mais de 100 canabinoides e 200 terpenos para essa finalidade.
Potencial antibiótico de canabinoides e terpenos
Você provavelmente já ouviu falar de THC e CBD. Ambos os produtos químicos pertencem à classe dos canabinoides. Essa família de compostos também está presente em outras espécies de plantas e interage com o sistema endocanabinoide humano (uma rede que abrange todo o corpo e ajuda a regular outros sistemas fisiológicos).
Os pesquisadores analisaram as propriedades antibacterianas dos extratos de cannabis e canabinoides por décadas. Os primeiros estudos ocorreram na década de 1950. Embora fossem observados efeitos bactericidas, o desconhecimento da fitoquímica da cannabis naquela época os impedia de identificar os compostos ativos.
No entanto, a ciência alcançou um grande avanço em 1976, quando foram descobertas as ações bacteriostáticas e bactericidas do THC e do CBD contra as bactérias gram-positivas. A pesquisa também testou os óleos essenciais de cânhamo contra certas formas de bactérias.
Essas preparações contêm novos canabinoides e terpenos, como pineno, limoneno e ocimeno. Estudos observaram atividade antimicrobiana moderada a alta em testes in vitro, indicando que uma certa combinação de compostos de cannabis pode ser benéfica para pesquisas futuras em humanos.
Em sua busca por novos antibióticos, a ciência se concentrou em vários canabinoides. O THC, principal composto psicotrópico da maconha e responsável pela alta, é bastante promissor. A pesquisa está finalmente estudando sua eficácia com maior profundidade, e os resultados descritos em um artigo de 2008 justificam a necessidade de uma análise mais aprofundada de seus efeitos contra o SARM.
Outros canabinoides antibacterianos
O THC é frequentemente a estrela da pesquisa sobre a cannabis, pois seu status psicotrópico está sempre em debate. Embora muitos consumidores apreciem seu efeito, outros canabinoides também são interessantes para os pesquisadores porque não expõem os pacientes aos efeitos intoxicantes do THC.
O CBD, ou canabidiol, não produz o “barato”. Em vez disso, aqueles que o consomem experimentam uma euforia lúcida que não afeta a função cognitiva. O CBD se tornou o foco de centenas de estudos que analisam seus potenciais efeitos benéficos, como sua ação contra bactérias resistentes a antibióticos.
Um artigo de 2021 intitulado “The Antimicrobial Potential of Canabidiol” marcou um grande avanço neste campo. Este documento discute o potencial do CBD para combater a “ameaça urgente” de bactérias gram-negativas, como a Neisseria gonorrhoeae.
CBG: você já ouviu falar de cannabigerol ou CBG? Sua forma ácida, CBGA, é conhecida como “canabinoide pai”. Essa molécula não psicotrópica é o precursor químico de outros canabinoides, como THC e CBD. Os pesquisadores também estudaram o CBG por seu potencial antibiótico, com estudos comparando-o à vancomicina (um medicamento usado para tratar muitos tipos de infecções bacterianas), em camundongos com SARM.
O futuro da maconha como um antibiótico
Precisamos urgentemente de novas formas de antibióticos. Como a profissão médica continua mudando a forma como essas drogas são prescritas, os pesquisadores estão procurando novas fontes de antibióticos para lidar com as cepas mutantes. A cannabis poderia ser a fonte desses compostos? Teremos que esperar para ver como a ciência descobrirá mais aplicações para os canabinoides.
Referência de texto: Royal Queen
por DaBoa Brasil | ago 17, 2021 | Curiosidades, Saúde
A maconha está rodeada de muitas mentiras, como aquela que diz que atordoa as pessoas. Embora haja muitas pesquisas sobre esse tópico, no post de hoje vamos dar uma olhada em algumas meta-análises e estudos com gêmeos para descobrir a possível relação causal entre a maconha e o QI.
A maconha há muito tempo é associada a um baixo QI, pois tem a reputação de emburrecer o usuário. No entanto, é um assunto extremamente complexo, e ainda não sabemos quais os efeitos que a cannabis tem sobre a inteligência. Na verdade, nem sabemos o que é exatamente inteligência. Mas a ciência está começando a mostrar que, embora haja uma ligação entre o uso de maconha e o QI, pode não ser causal.
O que é o QI?
QI, que significa Quociente de Inteligência, é uma forma quantificável de testar e medir a inteligência de uma pessoa. Para muitos, é um indicador polêmico, algo que veremos com mais detalhes em breve.
O QI é medido com o famoso teste de inteligência. Existem várias versões deste teste e algumas são conhecidas por outros nomes. No entanto, eles são atualmente bastante padronizados, testando o raciocínio abstrato, lógico e verbal, o conhecimento geral e assim por diante.
Cerca de dois terços dos participantes obtêm uma pontuação entre 85 e 115. E aproximadamente 2,5% têm um coeficiente maior que 130 ou menor que 70.
O que o QI nos diz?
O QI está longe de ser um indicador de inteligência absoluta, pois é influenciado por inúmeros fatores, dos quais muito poucos nos oferecem informações diretas sobre as funções fundamentais do cérebro de cada pessoa, mas sim sobre vários fatores físicos e ambientais inter-relacionados. Além do mais, a própria “inteligência” é um conceito impreciso, o que o torna muito difícil de medir.
Embora os testes de QI possam ser usados para medir um tipo limitado de “inteligência acadêmica”, eles não nos dizem muito sobre inteligência social ou criatividade. Portanto, mesmo dando algum crédito ao QI, devemos levar em consideração nossos próprios preconceitos com relação à inteligência e os valores culturais profundamente arraigados com os quais a envolvemos.
Além disso, os tipos de habilidade cognitiva que o QI mede são altamente dependentes de fatores ambientais. Isso não significa que não mede a inteligência (não há razão para que a inteligência não possa ser uma interação sociobiológica), mas sim que carrega consigo certos preconceitos e os perpetua. Por exemplo, o QI tende a favorecer as pessoas que o criaram: homens brancos de classe média.
Estudos mostram que as diferenças nas pontuações médias para diferentes grupos raciais podem ser atribuídas a fatores socioeconômicos em vez de fatores genéticos. Na verdade, a rápida redução dessa lacuna é uma indicação clara de que as diferenças ambientais, e não as inerentes, são a causa desses resultados. O que tudo isso quer dizer? Esse QI pode ser tomado como uma medida tanto dos fatores condicionantes de uma pessoa quanto de sua inteligência.
Por que isso é importante?
É importante conhecer a história de falhas associadas ao QI, uma vez que a correlação entre o uso de maconha e um baixo QI pode depender delas. Em outras palavras, o consumo de erva está associado a um baixo QI. No entanto, em uma inspeção mais detalhada, parece que ambos os aspectos podem compartilhar causas, em vez de um ser a causa do outro.
A maconha reduz o QI?
Há muito se diz que o uso de maconha, especialmente na adolescência, diminui o QI com o tempo. Existem numerosos estudos que sustentam essa hipótese. No entanto, quando vamos um pouco mais fundo, parece que a cannabis não é a causa.
Provas de que a maconha reduz o QI
O uso de maconha durante a adolescência parece estar associado a baixo QI. Um estudo de Meier et al. analisou o QI de 1.037 participantes aos 13 anos e novamente aos 38. Entre as duas idades, essas pessoas foram entrevistadas aos 18, 21, 26, 32 e 38 anos, a fim de determinar seu consumo de maconha.
Os participantes que usaram cannabis “repetidamente” tiveram uma diminuição estatisticamente significativa no QI. Além disso, essa redução foi mais concentrada nas pessoas que começaram a usar maconha durante a adolescência. Talvez mais preocupante, também foi observado que a suspensão do uso de erva, mesmo por longos períodos de tempo, não reverteu esse declínio. Concluiu-se que a cannabis tem efeitos neurotóxicos no cérebro do adolescente em desenvolvimento.
Mais recentemente, um estudo longitudinal realizado por Power et al. descobriu que o uso repetido de cannabis durante a adolescência está associado a uma diminuição média de dois pontos de QI. Este estudo revisou 2.875 artigos e, por fim, realizou uma meta-análise de sete deles. Esses sete artigos continham 808 casos e 5308 controles. Esta é muito provavelmente a maior meta-análise longitudinal conduzida até hoje sobre os efeitos da maconha no QI.
Assim como em outros estudos, observou-se que o uso de maconha na adolescência está relacionado à redução do QI e, principalmente, às alterações do QI verbal.
No entanto, embora este estudo estabeleça uma correlação clara entre o uso de cannabis e um QI mais baixo, ele não mostra que a maconha é a causa desse declínio. Um fator importante em todas as evidências científicas é o fato de que correlação não implica causalidade.
Muitas pesquisas mostram que, embora haja uma relação entre o uso de maconha e o declínio do QI, isso não significa que a maconha seja necessariamente a causa.
Provas de que a maconha não diminui o QI
Há evidências crescentes de que o QI reduzido em usuários de cannabis tem causas anteriores a erva. E não só isso, mas também se acredita que o uso de maconha compartilha das mesmas causas; o que explicaria a forte correlação entre o que poderiam ser dois efeitos de outras causas mais difíceis de identificar.
Os estudos de gêmeos são muito úteis para identificar as causas de um fenômeno. Embora as médias possam ser obtidas de grandes populações, é difícil aplicá-las a pessoas individualmente, uma vez que é impossível saber como seriam essas mesmas pessoas em qualquer um de seus possíveis futuros.
No caso da maconha, embora seja possível afirmar que o fumante crônico X teve queda de dois pontos em seu QI e o não fumante Y não, visto que as duas pessoas são diferentes, é muito difícil determinar se a Pessoa X teria experimentado o mesmo declínio se nunca tivesse fumado.
Estudos com gêmeos idênticos ajudam a eliminar esse problema até certo ponto, pois um atua como grupo de controle para o outro. Devido às semelhanças genéticas e educacionais (o aspecto mais controverso dos estudos com gêmeos é que pequenas diferenças podem ter resultados importantes), é mais fácil isolar as causas das diferenças entre os gêmeos. No caso do uso de maconha, se um dos gêmeos usa maconha e tem QI menor que o outro, que não fuma, e isso é observado em todos os pares de gêmeos, pode-se concluir que o consumo de erva diminui QI.
Mas a pesquisa mostrou que esse não é o caso.
Um estudo longitudinal de Jackson et al. com vários pares de gêmeos, descobriu que, embora o uso de maconha possa estar relacionado a uma queda no QI, essa relação não se manteve para pares de gêmeos. Em pares de gêmeos em que um deles usou cannabis durante a adolescência e o outro não, não foram observadas diferenças significativas entre seus QIs em qualquer momento durante a investigação.
A partir disso, conclui-se que existem outros fatores, como socioeconômicos e familiares, que são responsáveis pela perda de pontos de QI, e que não é devido ao uso de maconha.
Outro estudo também realizado por Meier et al., obteve os mesmos resultados. Três descobertas importantes foram feitas nele. Primeiro, aqueles que fumavam maconha já tinham QI baixo aos 12 anos, antes mesmo de começarem a fumar. Em segundo lugar, embora seu QI tenha diminuído nos anos seguintes (naqueles que usaram maconha), o declínio não foi maior do que o observado em participantes que não usaram maconha. Terceiro, as diferenças observadas entre usuários e abstêmios não foram encontradas em pares de gêmeos em que um usava cannabis e o outro não. Concluiu-se também que a dependência de cannabis e um baixo QI decorrem de outros fatores.
Deve-se notar que nenhum desses estudos afirma que um baixo QI faz com que uma pessoa fume maconha.
Conclusão: maconha e inteligência: qual a relação entre as duas?
Embora mais estudos sejam necessários, pesquisas parecem mostrar que fatores socioeconômicos e ambientais reduzem o QI e favorecem o uso repetido de cannabis durante a adolescência. Fazendo uma ligação com o início do artigo, e tendo em vista que fatores socioeconômicos têm se mostrado a causa das diferenças raciais entre os escores de QI, eles também poderiam explicar as diferenças entre quem usa maconha e quem não experimenta.
Dito isso, não devemos presumir que o consumo de maconha não afeta negativamente o QI, especialmente para aqueles que a usam quando seus cérebros ainda estão em desenvolvimento. Seria absurdo dizer que não há relação entre o uso pelo adolescente e a redução do QI, mesmo que essa relação não seja causal. Portanto, desaconselhamos o consumo de cannabis até que chegue a idade adulta.
Referência de texto: Royal Queen
por DaBoa Brasil | ago 15, 2021 | Ciências e tecnologia, Curiosidades, Saúde
No campo científico, o ano produziu mais de um estudo digno de revisão. Embora neste assunto não tenhamos sido tão exaustivos (e vários artigos podem nos ter escapado) trazemos uma pequena seleção daqueles que, sem dúvida, devem ser mencionados. Também, a cada ano que passa mais e mais estudos em muitos ramos da ciência são publicados, e a cannabis e outras drogas fazem parte dos campos de pesquisa mais promissores e inexplorados. Assim, o ano de 2020 bateu um recorde de artigos científicos sobre a cannabis, com quase dez artigos científicos publicados diariamente para cada um dos 365 dias do ano.
Começamos falando sobre a Covid, pois um estudo preliminar realizado em laboratório com pele humana artificial observou que alguns extratos de cannabis diminuíam a insuficiência pulmonar devido a casos de inflamação como a produzida pela covid. Os pesquisadores usaram sete variedades diferentes de extratos de cannabis, e três deles reduziram a indução de citocinas relacionadas à inflamação e fibrose pulmonar, enquanto uma das variedades piorou os sintomas. Foi um estudo pequeno com várias limitações, mas aponta para uma possível utilização de extratos de cannabis em futuros tratamentos de inflamação pulmonar por citocinas, como é o caso da covid-19.
Entre os publicados este ano, vale destacar também um pequeno, mas importante, estudo do Reino Unido que obteve resultados muito bons ao administrar maconha rica em THC e CBD a pacientes que sofriam de epilepsias refratárias desde o nascimento. A administração de cannabis reduziu o número de convulsões em todos os participantes em 97%, de modo que quase todos os pacientes passaram de centenas ou milhares de convulsões diárias para algumas dezenas.
Embora haja pouca evidência científica dos benefícios da aplicação de maconha em epilepsias infantis (este é um dos primeiros estudos), em muitos países, inclusive no Brasil, muitas famílias usam a planta para aliviar as convulsões de seus filhos com bons resultados, mas em muitas ocasiões se expondo a ilegalidade ou aquisição de produtos sem controle de qualidade.
Outro estudo envolvendo maconha concluiu que o CBD pode ser um tratamento antibiótico para bactérias resistentes. Os pesquisadores observaram que o CBD foi capaz de matar algumas bactérias gram-negativas, bactérias que têm uma linha de defesa extra que torna difícil a penetração dos antibióticos, e eles acreditam que o CBD poderia ser usado para desenvolver novos antibióticos que ajudem a combater bactérias resistentes a antibióticos atualmente disponíveis.
Ainda neste ano, foram publicados os resultados de um estudo no qual se constatou que as endorfinas não são responsáveis pela chamada euforia do corredor (runner’s high). Tradicionalmente, os efeitos antidepressivos que ocorrem em humanos após o exercício têm sido associados à liberação de endorfinas e seu efeito nos receptores opioides, mas aparentemente não é o caso. Segundo os pesquisadores, tudo aponta para o fato de que a sensação de redução da ansiedade associada ao exercício aeróbio se deve à liberação de endocanabinoides (canabinoides produzidos pelo próprio corpo).
Fora do corpo humano, no último ano um estudo analisou a quantidade de emissões de CO2 produzidas no cultivo industrial de cannabis e chegou à conclusão de que, nos Estados Unidos, para cada quilo de buds secos produzidos no cultivo indoor, são emitidos entre 2.200 e 5.100 quilos de CO2. Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que a eletricidade não é a única grande causa das emissões, mas que os sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado das plantações tinham a maior demanda de energia. O estudo foi realizado com base em diferentes regiões dos EUA e os pesquisadores observaram que a quantidade de CO2 produzida pode variar substancialmente dependendo de onde a cannabis é cultivada, devido às diferenças climáticas e à quantidade de emissões da rede elétrica.
Por último, um estudo realizado na Espanha apresentou 16 novos canabinoides desconhecidos até o momento. Os pesquisadores identificaram 43 canabinoides no óleo extraído de sementes de cannabis, dos quais 16 não haviam sido identificados anteriormente. Entre as novidades do estudo está a identificação de canabinoides que, segundo os pesquisadores, poderiam ter mais efeitos psicoativos do que o THC, hipótese gerada pela observação que deverá ser verificada em estudos futuros.
Referência de texto: Cáñamo
por DaBoa Brasil | ago 13, 2021 | Ciências e tecnologia, Curiosidades, História
Um estudo recente da Universidade de Laussane, na Suíça, revela que a origem da domesticação da cannabis pode remontar a cerca de 12.000 anos. No entanto, como observam os pesquisadores, as variáveis da maconha têm sido os fatores que a disseminaram pelo mundo.
Conclusões do estudo
O estudo publicado na Science Advances garante que a maconha, o trigo, a cevada e outros cereais foram domesticados praticamente ao mesmo tempo.
Segundo o Doutor em Ciências, Luca Fumagalli, do Departamento de Ecologia e Evolução da UNIL, a domesticação da cannabis pelo homem no período Neolítico está principalmente ligada ao seu uso medicinal e têxtil.
As flores eram usadas, por exemplo, para tratar doenças nevrálgicas, como a dor, graças às propriedades analgésicas do THC.
Para este estudo, foram consideradas 100 amostras de diferentes variedades de maconha, todas de diferentes partes da Ásia. Os especialistas concluíram que o primeiro contato do homem com a cannabis ocorreu na região mais oriental do continente asiático.
Com isso, também são desmontados os estudos publicados até agora de que este primeiro contato teria acontecido no centro deste continente.
Os cientistas garantiram em um comunicado que a evolução do genoma da cannabis sugere que nossos ancestrais teriam cultivado a planta por seu uso versátil.
A equipe de Fumagalli sugere ainda que, graças aos múltiplos usos da cannabis na pré-história, esta espécie persiste até hoje. Se não assim, nossa espécie teria desaparecido.
Mas em qualquer caso, e embora o contato humano tenha sido decisivo tanto para sua conservação quanto para sua propagação por praticamente todo o mundo, algumas de suas funções foram perdidas com o tempo.
Devido à seleção artificial da cannabis, muitos dos componentes estruturais ligados à síntese de THC e CBD foram modificados a ponto de desaparecer.
Esta é a primeira vez que um estudo considera o desenvolvimento histórico da cannabis. As restrições legais em muitos países asiáticos tornaram impossível uma pesquisa tão profunda sobre a maconha.
A diversidade de subespécies consideradas na amostra mostrou que algumas variedades tradicionais e selvagens chinesas constituem uma linha genética até então desconhecida.
Variedades
Começando na região mais oriental do continente asiático, a cannabis se espalhou lentamente para outras partes da Ásia. E ao longo dos séculos em outros continentes.
Influenciada por climas diferentes, a cannabis estava evoluindo e se adaptando. Assim surgem os três tipos diferentes que conhecemos: Sativa, Indica e Ruderalis.
Cannabis Sativa é a variante comum, classificada pela primeira vez em 1753 pelo botânico sueco Carolus Linneaeus. As variedades de maconha sativa vêm de áreas tropicais como Equador, México, sul da Índia, Tailândia e Etiópia.
A Cannabis Indica foi classificada em 1785 pelo botânico francês Lamarck. Ele recebeu suas amostras da Índia e nomeou-as em reconhecimento a esse fato. As variedades indicas evoluíram em regiões subtropicais. São encontradas principalmente no Paquistão, Afeganistão e no norte da Índia.
A Cannabis Ruderalis foi classificada quase 150 anos depois, em 1924. Elas vêm das regiões do sul da Sibéria e do norte do Cazaquistão.
Uso de maconha e cânhamo
Cânhamo e maconha são da mesma espécie: cannabis. A única diferença é sua composição (ou ingredientes ativos).
O cânhamo, também chamado cânhamo industrial, tem quantidades muito baixas de THC (até 0,3%), portanto, é legal em muitos países. Seus usos variam desde a alimentação até a indústria têxtil.
A maconha contém maiores quantidades de THC, o principal ingrediente da planta e também psicoativo.
Propriedades analgésicas do THC
As pesquisas sobre as propriedades da maconha são numerosas. Principalmente, sobre as importantes propriedades analgésicas. Por isso, muitas pessoas a usam para combater e aliviar certas condições que causam dor. Por exemplo, é muito eficaz no tratamento de enxaquecas. Aqueles que sofrem com isso sofrem de fortes e persistentes dores de cabeça.
Outro dos usos mais usados da maconha é no combate à dor de pacientes com esclerose múltipla. Alguns dos sintomas mais comuns dessa doença são espasmos, dor e dificuldade em dormir. Da mesma forma, o uso da maconha também é recomendado em pessoas que sofrem de outras doenças como fibromialgia, doença de Crohn ou para combater as dores causadas pela síndrome pré-menstrual.
Conclusão
A cannabis foi domesticada pela espécie humana há mais de 12.000 anos. Seja por suas sementes e fibras, ou por seus incríveis compostos como o THC, e outros, não há dúvida de que é uma planta muito valiosa, com um passado extraordinário e um futuro muito promissor.
Referência de texto: Science Advances / La Marihuana
por DaBoa Brasil | ago 3, 2021 | Saúde
Um novo estudo sugere que as propriedades anti-inflamatórias da cannabis podem ajudar a reduzir o prejuízo cognitivo em pacientes com HIV.
O uso regular de maconha pode reduzir a inflamação neurológica crônica em pacientes com HIV (PWH), de acordo com uma nova pesquisa publicada no Journal of the International Neuropsychological Society.
Estudos de pesquisas anteriores descobriram que os pacientes com HIV que usam cannabis tendem a ter taxas mais baixas de comprometimento neurocognitivo do que aqueles que não usam. Embora a maioria desses estudos não tenha sido capaz de explorar o mecanismo biológico responsável por esse fenômeno, um estudo recente descobriu que os pacientes com HIV que usaram cannabis recentemente mostraram sinais de redução da inflamação.
Para explorar mais a questão, pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego conduziram um novo estudo para descobrir se a maconha poderia ajudar a reduzir a inflamação do SNC (sistema nervoso central) em pessoas com HIV.
A equipe de pesquisa recrutou 198 indivíduos HIV +, incluindo 105 que não usavam cannabis, 62 que usavam cannabis moderadamente e 31 que usavam maconha diariamente. Como um grupo de controle, os pesquisadores selecionaram 65 indivíduos adicionais que eram HIV-negativo e não usavam cannabis.
Os pesquisadores usaram os testes de Kruskal-Wallis para testar biomarcadores de inflamação no sangue e líquido cefalorraquidiano dos indivíduos. Esses testes monitoram níveis elevados de proteínas específicas que podem indicar se uma pessoa está apresentando inflamação neural.
Pacientes que usaram cannabis todos os dias apresentaram níveis significativamente mais baixos de inflamação crônica do que aqueles que não usaram maconha. Na verdade, os níveis de inflamação de PWH usuários de cannabis eram semelhantes aos de pacientes que não tinham HIV.
Os pesquisadores também conduziram uma série de testes de desempenho cognitivo padrão e descobriram que os pacientes HIV + que usaram cannabis diariamente tiveram um desempenho melhor do que os indivíduos HIV + que nunca a usaram, confirmando os resultados de estudos anteriores.
“Tomados em conjunto, os resultados são consistentes com a noção de que os canabinoides podem modular processos inflamatórios em PWH, especificamente no SNC, e sugerem uma ligação entre a inflamação do SNC inferior e melhor função neurocognitiva”, escreveram os autores do estudo, conforme relatado pela NORML. “Futuros estudos em PWH são necessários para investigar os potenciais efeitos distintos de canabinoides específicos e do uso de medicamentos em adultos na estrutura e função do cérebro”.
Embora a pesquisa sobre o uso de cannabis para tratar a neuroinflamação em pacientes com HIV ainda esteja em seus primeiros dias, os cientistas exploraram mais profundamente o uso da maconha para tratar outras formas de inflamação. Milhões de pessoas já estão usando para tratar inflamação muscular e lesões relacionadas a esportes, e pesquisas recentes sugeriram que o CBD também pode ser capaz de reduzir a inflamação pulmonar associada às infecções por COVID.
Os pesquisadores também estão explorando se o CBD ou outros canabinoides podem ajudar a tratar outras condições relacionadas à inflamação, como doença inflamatória intestinal (DII), fibromialgia e até mesmo lesões causadas por derrames ou traumas na cabeça.
Clique aqui para acessar o estudo na integra.
Referência de texto: Merry Jane
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