Em Reefer Madness, um filme de 1936, os protagonistas enlouquecem e cometem vários crimes depois de consumir maconha.
O astrofísico e comunicador científico Neil deGrasse Tyson voltou a abordar o tema de drogas e saúde em seu último podcast, no qual ele ofereceu uma explicação clara e simples de por que o atual presidente dos EUA, Joe Biden, está relutante em apoiar uma regulamentação da maconha no país. “Porque ele é da geração Reefer Madness, é por isso”, comentou deGrasse Tyson durante o programa.
Reefer Madness é um filme de 1936 que apresenta uma visão distorcida dos efeitos da maconha para impedir seu uso. Os protagonistas do filme são um grupo de vários jovens que começam a consumir maconha e acabam enlouquecendo e cometendo diversos atos criminosos em decorrência do consumo. O filme foi produzido com a intenção de ser uma propaganda educativa para a população norte-americana sobre os supostos efeitos nocivos e moralmente degradantes da maconha.
No episódio do podcast StarTalk, Tyson conversa com o neurocientista Staci Gruber da Universidade de Harvard sobre a relação entre ciência, política, esportes e cannabis. Durante o programa, ambos discutiram a recente polêmica sobre a desqualificação da velocista Sha’Carri Richardson dos Jogos Olímpicos, e debateram por que a maconha ainda é proibida no país, apesar das inúmeras evidências científicas da segurança de seu uso e de seu potencial terapêutico.
A empresa Global Hemp Group Inc, com sede em Vancouver (Canadá), adquiriu 664 acres de terra em Hayden, Colorado (EUA), para construir moradias populares com materiais à base de cânhamo nos próximos 25 anos. Essa é a terceira aquisição de terrenos pela empresa neste ano, totalizando cerca de 874 hectares.
O projeto é chamado de Zona Agroindustrial do Cânhamo do Colorado (HAIZ).
A terra será usada para o cultivo de cânhamo antes do início do projeto habitacional. A empresa apresentará primeiramente as casas de material de cânhamo em um terreno de 44 acres.
“Este projeto verticalmente integrado contempla o uso benéfico de recursos hídricos existentes substanciais para irrigar e cultivar cânhamo, processar e utilizar o cânhamo na fabricação local de produtos de construção verdes renováveis e, finalmente, construir habitações carbono neutro/ carbono negativo a preços acessíveis”, disse a Global Hemp Group em um comunicado à imprensa.
O gerente municipal, Matt Mendisco, disse ao Craig Daily Press que o projeto faz parte do “plano mestre” da cidade para atrair empresas, uma vez que prevê o fechamento da estação Hayden em 2028 e a perda de receita fiscal que virá com isso.
“Temos sorte porque nosso plano mestre é muito, muito claro sobre como essa área deve se desenvolver”, disse Mendisco ao Daily Press. “Fornecemos documentos a eles e eles estão bem cientes disso”.
Mendicso acrescentou que o projeto também se enquadra na tradição agrícola da cidade.
“Não se trata de cultivo de trigo ou criação de gado, mas ainda é agricultura”, disse Mendisco no relatório. “Eu acho que, feito certo e em parceria com a comunidade corretamente, eles podem ter muito sucesso, e isso poderia fornecer muitos empregos”.
Os psicodélicos podem fornecer o impulso certo para superar os padrões de vício, como fumar tabaco.
O uso do tabaco é uma das principais causas de morte evitável no mundo. Mas os pesquisadores acreditam que os psicodélicos têm uma capacidade única de desbloquear padrões cerebrais que levam ao vício, principalmente o vício da nicotina.
O Mydecine Innovations Group anunciou em 18 de agosto que assinou um acordo de pesquisa de cinco anos com a Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins (JHU), para estudar a eficácia das formulações psicodélicas para a cessação do tabagismo.
Embora o Mydecine Innovations Group não divulgue os tipos de psicodélicos a serem usados no estudo, os pesquisadores já exploraram a psilocibina para o tratamento da dependência e a ketamina para o tratamento da dependência, para começar.
“Estamos entusiasmados em expandir o trabalho atual que estamos conduzindo com o Dr. Matt Johnson e sua equipe na JHU em relação à cessação do tabagismo para incluir vários outros projetos nos próximos cinco anos”, declarou o CEO da Mydecine, Josh Bartch, em um comunicado à imprensa. “Os pesquisadores da JHU provaram sua incrível profundidade de conhecimento no campo”.
Embora a pesquisa em psicodélicos para fins médicos seja recente, a Unidade de Pesquisa em Farmacologia Comportamental da Johns Hopkins tem ampla experiência na realização de pesquisas clínicas relacionadas ao uso terapêutico de psicodélicos.
“O potencial de longo prazo deste acordo de pesquisa é cativante para nós aqui na Mydecine”, disse o diretor científico e co-fundador da Mydecine, Rob Roscow. “Isso demonstra nosso compromisso com o avanço da medicina psicodélica, explorando várias moléculas e medicamentos para uma variedade de indicações”.
Os pesquisadores destacaram que é importante não esquecer as mortes causadas pelo tabaco, apesar do foco no vício em opioides nos últimos tempos.
“Apesar da recente atenção ao opiáceo e à dependência de outras substâncias ilícitas, às vezes esquecemos o incrível fardo que a dependência da nicotina tem em nossas sociedades”, disse o Dr. Rakesh Jetly, Diretor Médico da Mydecine.
Fumar tabaco X Fumar maconha
Enquanto o tabaco mata milhões de pessoas no mundo a cada ano, o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA relata que a cannabis não leva a overdoses, apesar dos surtos comuns após a ingestão de comestíveis.
“Não há relatos de adolescentes ou jovens adultos morrendo apenas de uma overdose de maconha”, afirma a organização. “Mas há relatos de indivíduos que procuraram tratamento em salas de emergência, relatando efeitos colaterais desagradáveis após consumir altos níveis de THC em maconha fumada ou comestíveis”.
A fumaça da cannabis não é tão cancerígena quanto a fumaça do tabaco – sim, há uma grande diferença. No entanto, existem muitas razões para parar de fumar tabaco.
A American Cancer Society pinta um quadro preocupante de quanta diferença pode fazer parar de fumar tabaco. Seu corpo muda dentro de minutos e horas após parar.
Vinte minutos depois de parar, sua frequência cardíaca e pressão arterial caem. Poucos dias após parar de fumar, o nível de monóxido de carbono no sangue cai ao normal. Duas semanas a três meses após parar de fumar, sua circulação melhora e sua função pulmonar aumenta. Um a 12 meses após parar de fumar tabaco, a tosse e a falta de ar diminuem.
“Minúsculas estruturas semelhantes a cabelos que movem o muco para fora dos pulmões começam a recuperar a função normal, aumentando sua capacidade de lidar com o muco, limpar os pulmões e reduzir o risco de infecção”, relata The American Cancer Society. Um a dois anos após parar de fumar, o risco de ataque cardíaco cai drasticamente.
Cinco a 10 anos após parar de fumar, o risco de câncer de boca, garganta e cordas vocais é reduzido pela metade. O risco de AVC diminui. Dez anos depois de parar de fumar, seu risco de câncer de pulmão é cerca de metade do de uma pessoa que ainda fuma (após 10-15 anos). O risco de câncer de bexiga, esôfago e rim também diminui. Quinze anos depois de parar de fumar, seu risco de doença coronariana é próximo ao de um não fumante.
Em Michigan, nos EUA, os membros do conselho municipal de Ann Arbor nomearam setembro como o “Mês da Conscientização de Plantas Enteogênicas e Fungos” psicodélicos.
Os membros do conselho Jeff Hayner e Kathy Griswold foram duas das pessoas que patrocinaram a iniciativa. Em uma reunião digital do conselho municipal, o vereador Jeff Hayner explicou o motivo de setembro ser o mês escolhido. “Com a ajuda de nossos defensores locais, decidimos setembro porque é quando aprovamos nossa resolução descriminalizando efetivamente essas plantas…”.
O texto da resolução menciona que as plantas enteogênicas podem ajudar a tratar “abuso de substâncias, vício, reincidência, trauma, sintomas de estresse pós-traumático, depressão crônica, ansiedade severa, ansiedade de fim de vida, luto, cefaleia e outras condições debilitantes que estão presentes em nossa comunidade”, graças a estudos clínicos que determinaram sua eficácia como tratamento para algumas doenças, assim como para o “crescimento espiritual pessoal”.
Também descreve resumidamente o progresso feito com substâncias como psilocibina, ibogaína e ayahuasca. “O FDA concedeu a designação de terapia inovadora para a psilocibina para uso em transtornos depressivos maiores; A psilocibina demonstrou aliviar a depressão resistente ao tratamento, a ansiedade do fim da vida e as cefaleias, a ibogaína demonstrou ser um tratamento eficaz para a dependência de opiáceos e estudos com a Ayahuasca estão atualmente em andamento para compreender melhor sua capacidade de tratar a depressão, e a dependência de substâncias…”
“Acho que é empolgante que estejamos explorando esses novos limites, que estejamos procurando alternativas para soluções de saúde mental”, disse Hayner em relação ao fim de sua proposta. Todos os membros do conselho presentes foram a favor da aprovação da moção, sem nenhuma oposição.
Ann Arbor faz história
A organização local mencionada por Hayner é a Decriminalize Nature Ann Arbor (frequentemente chamada de DNA2), que se esforça para descriminalizar as plantas enteogênicas na cidade “enquanto restaura nossa conexão com a natureza e melhora a saúde, esperança e o bem-estar humano”.
O grupo postou no Facebook sua empolgação pelo novo mês temático que gira em torno da educação de plantas enteogênicas. “Estamos muito satisfeitos com a votação do Conselho Municipal de Ann Arbor para declarar o mês da conscientização sobre plantas e fungos em setembro. Isso mostra seu apoio contínuo a este movimento local. Setembro está se preparando para ser um mês maravilhoso aqui em Ann Arbor e em todo o estado de Michigan”.
DNA2 planeja realizar seu EntheoFest 2021 inaugural em 19 de setembro na Universidade de Michigan em “the Diag” (um ponto de encontro proeminente para muitos eventos canábicos, como o Ann Arbor Hash Bash) entre 11h11 e 14h22. O evento gratuito terá duração de três horas e contará com inúmeros palestrantes, música ao vivo e estandes educacionais. O festival está programado para ocorrer quase um ano depois que a cidade de Ann Arbor votou de forma unânime pela descriminalização das plantas enteogênicas em 21 de setembro de 2020.
A DNA2 também planeja apresentar um projeto de lei chamado “Decriminalize Nature Michigan” ao Senado, com a intenção de “remover efetivamente as penalidades para o uso pessoal e comunitário de enteógenos”.
A descriminalização de substâncias psicodélicas em Ann Arbor é uma das muitas tentativas bem-sucedidas de chamar a atenção para as propriedades únicas das plantas enteogênicas. Denver, no Colorado (EUA), foi a primeira cidade do país a descriminalizar a psilocibina em maio de 2019, seguida por Oakland, Califórnia, que descriminalizou os psicodélicos em junho de 2019. Oregon se tornou o primeiro estado a legalizar a psilocibina para fins medicinais em 5 de novembro de 2020. Estes são apenas alguns exemplos do esforço nos EUA para melhorar o acesso às plantas enteogênicas com propriedades medicinais.
No campo científico, o ano produziu mais de um estudo digno de revisão. Embora neste assunto não tenhamos sido tão exaustivos (e vários artigos podem nos ter escapado) trazemos uma pequena seleção daqueles que, sem dúvida, devem ser mencionados. Também, a cada ano que passa mais e mais estudos em muitos ramos da ciência são publicados, e a cannabis e outras drogas fazem parte dos campos de pesquisa mais promissores e inexplorados. Assim, o ano de 2020 bateu um recorde de artigos científicos sobre a cannabis, com quase dez artigos científicos publicados diariamente para cada um dos 365 dias do ano.
Começamos falando sobre a Covid, pois um estudo preliminar realizado em laboratório com pele humana artificial observou que alguns extratos de cannabis diminuíam a insuficiência pulmonar devido a casos de inflamação como a produzida pela covid. Os pesquisadores usaram sete variedades diferentes de extratos de cannabis, e três deles reduziram a indução de citocinas relacionadas à inflamação e fibrose pulmonar, enquanto uma das variedades piorou os sintomas. Foi um estudo pequeno com várias limitações, mas aponta para uma possível utilização de extratos de cannabis em futuros tratamentos de inflamação pulmonar por citocinas, como é o caso da covid-19.
Entre os publicados este ano, vale destacar também um pequeno, mas importante, estudo do Reino Unido que obteve resultados muito bons ao administrar maconha rica em THC e CBD a pacientes que sofriam de epilepsias refratárias desde o nascimento. A administração de cannabis reduziu o número de convulsões em todos os participantes em 97%, de modo que quase todos os pacientes passaram de centenas ou milhares de convulsões diárias para algumas dezenas.
Embora haja pouca evidência científica dos benefícios da aplicação de maconha em epilepsias infantis (este é um dos primeiros estudos), em muitos países, inclusive no Brasil, muitas famílias usam a planta para aliviar as convulsões de seus filhos com bons resultados, mas em muitas ocasiões se expondo a ilegalidade ou aquisição de produtos sem controle de qualidade.
Outro estudo envolvendo maconha concluiu que o CBD pode ser um tratamento antibiótico para bactérias resistentes. Os pesquisadores observaram que o CBD foi capaz de matar algumas bactérias gram-negativas, bactérias que têm uma linha de defesa extra que torna difícil a penetração dos antibióticos, e eles acreditam que o CBD poderia ser usado para desenvolver novos antibióticos que ajudem a combater bactérias resistentes a antibióticos atualmente disponíveis.
Ainda neste ano, foram publicados os resultados de um estudo no qual se constatou que as endorfinas não são responsáveis pela chamada euforia do corredor (runner’s high). Tradicionalmente, os efeitos antidepressivos que ocorrem em humanos após o exercício têm sido associados à liberação de endorfinas e seu efeito nos receptores opioides, mas aparentemente não é o caso. Segundo os pesquisadores, tudo aponta para o fato de que a sensação de redução da ansiedade associada ao exercício aeróbio se deve à liberação de endocanabinoides (canabinoides produzidos pelo próprio corpo).
Fora do corpo humano, no último ano um estudo analisou a quantidade de emissões de CO2 produzidas no cultivo industrial de cannabis e chegou à conclusão de que, nos Estados Unidos, para cada quilo de buds secos produzidos no cultivo indoor, são emitidos entre 2.200 e 5.100 quilos de CO2. Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que a eletricidade não é a única grande causa das emissões, mas que os sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado das plantações tinham a maior demanda de energia. O estudo foi realizado com base em diferentes regiões dos EUA e os pesquisadores observaram que a quantidade de CO2 produzida pode variar substancialmente dependendo de onde a cannabis é cultivada, devido às diferenças climáticas e à quantidade de emissões da rede elétrica.
Por último, um estudo realizado na Espanha apresentou 16 novos canabinoides desconhecidos até o momento. Os pesquisadores identificaram 43 canabinoides no óleo extraído de sementes de cannabis, dos quais 16 não haviam sido identificados anteriormente. Entre as novidades do estudo está a identificação de canabinoides que, segundo os pesquisadores, poderiam ter mais efeitos psicoativos do que o THC, hipótese gerada pela observação que deverá ser verificada em estudos futuros.
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