Cinco discos para se ouvir chapado

Cinco discos para se ouvir chapado

A maconha tem uma relação muito próxima com a música. Para compositores, a erva aumenta a criatividade durante o processo de criação. Para ouvintes, a experiência de se ouvir um disco se torna muito mais profunda quando feita sob o efeito da canábis. Pensando nisso, foi elaborada, especialmente para o DaBoa Brasil, uma lista com cinco discos para se ouvir chapado. Confira:

  1. Rolling Stones- Let it Bleed (1969): Definitivamente um dos melhores trabalhos dos Rolling Stones, sendo o último com o guitarrista Brian Jones, o álbum, carregado de violões e solos de guitarra, com forte influência do blues e do country, é perfeito para se ouvir fumando um baseado num domingo de sol. Destaque para as músicas “Gimme Shelter”, “Country Honk” e “You Can’t Always Get What You Want”.
  2. Caetano Veloso- Qualquer Coisa (1975): Já em uma fase mais distante do tropicalismo, o disco “Qualquer Coisa” é um trabalho mais intimista e acústico de Caetano Veloso, que com o seu violão, dá uma nova roupagem às músicas dos Beatles e de Chico Buarque. Com destaque para as músicas “Qualquer Coisa”, “Eleanor Rigby” e “Samba e Amor”, o álbum é uma boa trilha sonora para quem quer relaxar em casa fumando um depois de um dia cansativo de trabalho.
  3. Pink Floyd- Atom Heart Mother (1970): O famoso disco da vaca do Pink Floyd é o recomendado para quem quer viajar forte. Portanto, este é um álbum feito para se ouvir com a cabeça mais chapada que o usual para sentir cada nota das músicas. Este trabalho de 1970 é altamente lisérgico, com destaque para a longa e chapante “Atom Heart Mother Suite”, e também para as músicas “Fat Old Sun” e “Summer ‘68”.
  4. Secos & Molhados- Secos & Molhados II (1974): O segundo e último disco do Secos & Molhados em sua formação original é um tsunami de ritmos e sons. Ainda com as misturas musicais que fez do grupo de João Ricardo e Ney Matogrosso um fenômeno da música brasileira, “Secos & Molhados II” é um disco para se ouvir a qualquer hora, mas escutá-lo fumando um durante uma viagem de carro pode ser uma experiência indescritível. Destaque para as músicas “Flores Astrais”, “Não: Não Digas Nada” e “Delírio”.
  5. Gilberto Gil- Kaya N’Gan Daya (2002): Gilberto Gil pode ser considerado um dos principais nomes do reggae brasileiro. Prova disso está no disco “Kaya N’Gan Daya”, em que o baiano regrava as músicas de Bob Marley. O trabalho com certeza impressionaria o rei do reggae, com destaque para a versão em português de “No Woman no Cry”, que virou “Não Chore Mais”, além de “Could You Be Loved” e “Eleve-se Alto Ao Céu”. Um bom disco para quem gosta de fumar um sempre que tem a oportunidade.

Gostou da lista? Então aperte alguns, dê o play e depois nos conte como foi aqui nos comentários!

Por Francisco Mateus

O dia em que Bob Marley passou a bola para Chico Buarque

O dia em que Bob Marley passou a bola para Chico Buarque

Foi em março de 1980, durante o fim do verão. O Rio de Janeiro, como de costume, foi palco de um encontro de gigantes. Entre as grandes atrações estavam Chico Buarque, Toquinho, Alceu Valença, Junior Marvin, Paulo César Caju e Bob Marley. O encontro foi musical, mas a interação entre os artistas se deu através do futebol.

Era a primeira vez de Bob Marley no Brasil, que numa pausa da gravação do disco ‘Uprising’, veio ao país tropical a convite da gravadora Ariola, que estava abrindo uma nova filial. Aproveitando o fato de estar no país do futebol, o músico jamaicano logo teimou em jogar uma pelada. Visto ser  impossível recusar um pedido vindo do rei do reggae, a gravadora Ariola logo organizou às pressas uma partida na casa de Chico Buarque.

Para o jogo, foi montado um time de craques da música e do futebol. De um lado, Bob Marley, Junior Marvin, Paulo César Caju, Toquinho, Chico e Jacob Miller. Do outro, Alceu Valença, Chicão e mais outros quatro funcionários da gravadora. Usando uma camisa do Santos estampando o número 10, Bob Marley conquistou a todos com seu carisma, e também, talento para o futebol.

Com dribles, passes certos e muito ritmo, o time de Bob Marley ganhou a partida por 3×0, com um gol feito pelo próprio, e os outros feitos por Chico Buarque e Paulo César. “Sou fã do seu futebol”, disse Bob Marley a Paulo César. “E eu da sua música”, respondeu o jogador ao músico.

O que aconteceu após o jogo, ficou apenas entre os jogadores. Mas uma coisa é fato, deve ter faltado colírio para tanto artista bom de bola.

Por Francisco Mateus

Rede Globo e o uso legal da maconha

Rede Globo e o uso legal da maconha

Por mais incrível que pareça, a Rede Globo está desempenhando um ótimo papel em desconstruir o estigma popular da maconha por meio de reportagens. Antes tarde do que nunca. Todo tipo de informação que acrescente na discussão da descriminalização das drogas é bem-vinda, ainda mais quando ela vem da mais influente emissora do país.

O colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, já adiantou a informação de que a Anvisa irá, até o fim do ano, regulamentar a maconha no Brasil para fins medicinais e terapêuticos. Mas sabe-se que o preconceito das pessoas com relação a erva é ainda muito enraizado, prova disso são os comentários em posts do facebook que colocam o usuário de maconha no mesmo grupo dos dependentes químicos e criminosos.

Só uma mudança na política de drogas por parte do Supremo Tribunal Federal não é o bastante para mudar a mentalidade do brasileiro. Enquanto que em vários países do mundo a maconha é vista como algo banal, o Brasil insiste, principalmente por meio dos políticos, em manter o tabu vigente no país. E o único jeito de combater a ignorância, é por meio de informação.

A última edição do Profissão Repórter consegue exemplificar bem a mudança de postura da Globo para falar sobre a maconha. A reportagem mostrou que planta tem sim vários benefícios medicinais comprovados por pesquisas científicas, e para determinadas doenças ela é a única forma de tratamento eficaz. Por tanto, a Globo bate de frente com a recente declaração do ministro Osmar Terra que disse que a maconha não tem nenhum uso médico comprovado.

Não foram apenas os usuários medicinais que foram abordados de uma forma mais natural. Os usuários recreativos, que representam os grandes consumidores de maconha, foram retratados como reféns de um sistema falho, que apenas aumenta o problema de saúde e segurança pública. O usuário de maconha quer usar maconha sim, do mesmo jeito do fumante que quer fumar cigarro mesmo sabendo de seus malefícios.

E para exemplificar como a legalização da maconha pode trazer mudanças positivas a todos, mas respeitando a individualidade de cada pessoa, o Uruguai foi o grande modelo da reportagem. Tirar o lucro das drogas das mãos dos grandes traficantes e direcionar para o estado é a forma encontrada pelo governo do então presidente Mujica para enfraquecer o crime organizado. E funcionou.

O Brasil está na direção certa; atrasado, mas avançando em passos lentos e pequenos.

Por Francisco Mateus

Conto Canábico: larica forte num sábado de sol

Conto Canábico: larica forte num sábado de sol

Era um sábado de céu aberto, com um sol de lascar. Saí de Curitiba pela manhã para chegar em Florianópolis pouco antes do meio dia. E não deu outra, mal botei os pés para fora da rodoviária e a primeira coisa que fiz foi bolar um baseado. Unir a minha brisa com a brisa que sopra do mar para dentro da ilha catarinense.

Enquanto queimava o baseado, eu caminhava pela região central de Florianópolis planejando mentalmente qual seria o programa para o dia. Mas o sol chegou à posição do meio dia, e em pouco tempo ficou insuportável ficar fora de um lugar sem sombra. A língua começou a secar, e o estômago a roncar. Precisava urgentemente de uma cerveja para molhar a garganta, e de um rango para matar a larica.

Consegui a cerveja e fui me sentar em um banco na sombra de uma árvore. Comecei a pensar onde iria comer. Eis que, poucos metros à minha frente, uma forte fumaça de cheiro familiar me chamou atenção. Em meio à maresia, um grupo de cinco hippies conversava e fumava maconha tranquilamente. Logo pensei “porra, esses caras devem estar com fome também, e eles devem saber onde tem um rango do bom”.

Cheguei na maior humildade no grupo e comecei a trocar ideia. “Opa, licença. Eu sou de Curitiba e cheguei agora em Floripa. Tava fumando um e bateu uma larica, aí vi vocês sentados aqui fumando um também e pensei que vocês deveriam saber de um lugar de boa para comer um rango”. Após me explicar a situação, um dos hippies, que usava brinco de penas, sorriu para mim e acabou respondendo pelo grupo. “Pô maluco, tu veio de Curitiba hein? Ó, a gente sabe de um lugar com um feijão bom e barato. Cola aqui com a gente que depois vamos todos lá encher o bucho”.

Assim que me juntei ao grupo, um outro hippie tira da mala uma murruga. Consigo sentir o cheiro cítrico da outra extremidade da pequena roda. Ele pica a flor com a tesoura de um canivete e faz um baseado, que logo começa a passar de mão em mão, deixando todos chapados.

Ao fim do baseado, nos levantamos e começamos andar pelas ruas centrais de Florianópolis. Eu não tinha a mínima ideia para onde estava indo, mas o hippie dos brincos de penas falava que eu estava prestes a comer o melhor feijão da cidade em um local pouco conhecido pelas pessoas.

Chegamos a uma casa antiga de fechada laranja. Sem sofisticação, com mesas de madeira e toalhas de plástico. Nos ajeitamos em uma mesa grande e pedimos um feijão e cerveja. Estava todo mundo visivelmente chapado, com olhos vermelhos e movimentos lentos. Assim que a panela de feijão chegou, não deu outra, ela foi atacada imediatamente.

Panela vazia, mas a larica ainda roncava. Pedimos mais um feijão e mais uma cerveja. Assim que a garçonete levou nosso pedido para cozinha, um caminhão parou em frente ao restaurante, e dele desceram cinco indivíduos muito estranhos. Estavam todos muito elétricos, e assim que se ajeitaram em uma mesa, começaram a gritar para a garçonete: “FEIJÃO, FEIJÃO, FEIJÃO!”. A moça claramente ouviu o pedido e logo o levou para a cozinha.

Minutos depois, os cinco indivíduos começaram a gritar da mesa em que estavam para garçonete que saia da cozinha trazendo uma panela de feijão. “UH UH UH FEIJÃO! UH UH UH FEIJÃO!”. Mas ao invés de ir para a mesa deles, o feijão veio para a nossa mesa. Então, começou uma revolta no restaurante.

“Ei, que porra é essa?!” gritou um dos indivíduos. “Os caras pegaram o nosso feijão!”. Então, nossa mesa logo foi cercada pelos cinco caras, que agora mais de perto, percebi que estavam com os olhos arregalados e com as narinas vermelhas. “Ô seus maconheiros, cês estão com o nosso feijão.”. O hippie dos brincos de penas então, de forma muito calma, respondeu “bicho, calma ae, cês chegaram depois, nós pedimos o feijão antes de vocês”. Mas parece que a explicação não acalmou a situação.

“Que que você tá falando meu, você tá chapado, tá doidão! Esse feijão é nosso!”. Não houve confronto. Ainda estávamos chapados pela murruga, o que nos impossibilitava de brigar com os caras. Então, o japonês do grupo do caminhão tirou a panela do centro da nossa mesa e levou até a deles. Felicidade para os indivíduos, tristeza para os maconheiros.

Mas para a nossa felicidade, veio a garçonete trazendo uma panela de feijão. Ela viu que os indivíduos tinham pegado o nosso feijão, então a panela que era para ser deles, ela trouxe para a nossa mesa. A tristeza que tomava conta dos hippies, logo foi substituída pela alegria de ver a panela cheia de feijão na mesa.

Comemos o feijão na maior felicidade, como se nada tivesse acontecido. Depois de algum tempo os indivíduos, gritando e batendo os pés, foram embora no caminhão. Confesso que fiquei com uma certa raiva daqueles caras, mas sabia que era irrelevante cultivar um sentimento negativo por pessoas que eu nunca mais veria na vida.

Meses mais tarde vi na televisão que um avião havia caído com cinco caras dentro. Vi a foto dos envolvidos no acidente e juro que achei que eram os caras do feijão. Mas sou maconheiro, e confesso que às vezes não sei a diferenciar a memória do delírio.

Por Francisco Mateus

Conto Canábico: um encontro com a Santa Maria Joana

Conto Canábico: um encontro com a Santa Maria Joana

Foi logo após o trampo. Saí da redação do jornal onde trabalho naquele momento da tarde quando o céu começa a escurecer e as estrelas se revelam. Antes de ir ao bar tomar uma cerveja, parei em uma pequena praça, com um banco e um busto de alguma figura histórica importante, e lá me acomodei para fumar um baseado.

Estava tendo uma pira deliciosa, apenas observando a chegada da noite e sentindo a brisa curitibana. Após queimar todo o baseado, joguei a ponta que restou fora. Assim que a ponta caiu na grama, uma forte luz surgiu bem em minha frente, como se uma granada de flash tivesse explodido.

“Caralho maluco, que porra é essa!?” gritei ao se quase ser cegado pela luz. Fiquei imóvel, e assim que abri os olhos, fui surpreendido por uma figura feminina, que me encarava com uma ternura até então inédita para mim.

Estava de boca aberta. “Oi Francisco.” disse a mulher. Me espantei com o fato da figura saber o meu nome. “Farei o que você quiser, desde que minha memória não seja apagada, por favor” disse à ela. “Do que você está falando?” respondeu a mulher sem entender o que eu estava dizendo. “Você é uma alienígena! Você veio me buscar para fazer experimentos dentro da sua nave espacial!”.

“Se acalme, vim até você porque tenho uma mensagem”. Me decepcionei porque de certa forma eu queria dar um rolê de nave espacial; mas decidi ouvir o que a figura tinha a me dizer. “Eu sou a Santa Maria Joana, fui mandada por Deus para vir à terra avisar que a raça humana corre perigo se continuar proibindo o uso da cannabis”.

O papo ficou louco. “Por que eu nunca ouvi falar de você? Nenhum padre chegou sequer a falar de você, nem mesmo o papa.”. Na minha cabeça, maconha era até então algo que a religião abominava. “Quem não fala de mim são os homens. No céu, a Cannabis é uma planta sagrada, e  se os homens continuarem proibindo seu uso, a raça humana poderá deixar de existir”. Fiquei assustado com tal revelação.

“Como a raça humana deixará de existir com a proibição?” perguntei a ela. “Isso não vem ao caso. O que eu peço a você, é que acabe com a ideia errônea que as pessoas têm sobre a maconha.”. “E como farei isso?”. “ Você encontrará duas pessoas que te darão as ferramentas necessárias para espalhar o culto à cannabis. Use seu dom com as palavras.”.

Estava quase convencido com tudo aquilo que a Santa me falou, mas faltava uma prova de que aquele papo não era zoeira. “Ok, mas como eu posso saber que tudo isso que você está falando é verdade e que você realmente é uma Santa?”. A mulher se agachou, pegou a ponta que eu havia jogado fora e apertou ela com as duas mãos. Assim que elas se abriram, o baseado estava inteiro novamente.” Uou, isso sim é um verdadeiro milagre!”.

“Você sabe o que fazer daqui para frente. Boa Sorte.”. E em um piscar de olhos, a Santa sumiu. Fiquei paralisado, tentando entender tudo aquilo que tinha acontecido. Pode ser que de fato tudo aquilo que eu vivi tenha sido verdade, mas também poderia ter sido uma brisa forte de maconha. Deixei a praça e fui ao bar beber.

Na semana seguinte, fui ao Largo da Ordem acompanhar o ensaio da Batucannabis. Lá havia dois rapazes distribuindo exemplares da revista Maconha Brasil. Logo comecei a trocar ideia com os malucos. Falei que era jornalista e fumava maconha. Então, veio o convite. “Ei, você não quer escrever para o nosso blog?” me perguntou um dos rapazes que usava dreadlocks e toca. “Pô, eu adoraria. Qual é o nome do blog de vocês?”. “Se chama DaBoa Brasil. Dê uma olhada lá!”.

Fui para casa com a ideia na cabeça. Alguma coisa me dizia que seria uma boa escrever para os caras. E assim, nasceu a coluna de Francisco Mateus no blog DaBoa Brasil.

 

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