Cultura Canábica: a origem do termo “ganja” e seu uso atualmente

Cultura Canábica: a origem do termo “ganja” e seu uso atualmente

Existem centenas de palavras para a maconha, mas nenhuma tem um significado histórico como “ganja”. Esta antiga palavra tem raízes no sânscrito, e a própria planta desempenhou um papel importante nas práticas religiosas e nos sistemas de medicina do mundo hindu. No post de hoje você vai descobrir a origem deste famoso termo e como ele veio para o Ocidente.

Ganja. Essa palavra está presente em todo o mundo da maconha. Você pode ver essas cinco letras em sites, vitrines, músicas e nos mais diversos produtos. O uso informal deste termo significa que ele é frequentemente agrupado com muitas outras gíria de maconheiro. Mas o termo ganja tem raízes antigas e uma história fascinante. Continue lendo e descubra a origem da palavra e como ela se tornou tão presente na cultura canábica.

Existem muitos nomes para a maconha

Pense nisso por um momento: você provavelmente conhece mais sinônimos para maconha do que para qualquer outro substantivo. Existem centenas de nomes para a planta e as flores que ela produz. Embora alguns deles tenham raízes botânicas, muitos outros são classificados como jargões. Como a maconha tem uma história complexa, usuários costumam inventar nomes para esconder o assunto em suas conversas. É claro que, à medida que esses termos se tornaram cada vez mais populares, eles tiveram que ser substituídos por novos para preservar a discrição. Alguns dos nomes mais comumente usados ​​para a maconha incluem: erva, maria, ganja, pot, mota, flores, verde, entre tantos outros.

Mas entre essas palavras há uma que não é como as outras. Os usuários de maconha costumam presumir que a palavra “ganja” é descendente da gíria jamaicana. Embora o termo tenha uma tradição na ilha caribenha, ele data muito mais da antiguidade.

Índia: as raízes da “ganja”

A maconha tem uma longa e rica tradição na Índia. Embora a erva seja provavelmente nativa da China moderna, a planta também alcançou as fronteiras da Índia, onde desempenhou um papel importante como erva holística e em cerimônias religiosas. O uso da planta na região remonta a 2.000 A.E.C.

Acredita-se que haja referências à maconha em vários textos antigos. Alguns estudiosos falam da maconha como candidata a uma preparação ritual intoxicante chamada soma, durante o período védico. O Rigveda, escrito entre 1700-1100 A.E.C., reverencia essa bebida com poder de alterar a mente. O Atharvaveda, composto entre 1500-1000 A.E.C., também menciona uma planta sagrada, conhecida como “bhanga”, que era usada para aliviar a ansiedade.

No entanto, essas referências permanecem controversas. Os documentos são escritos em sânscrito, uma das línguas mais antigas e sistêmicas do mundo. Este antigo sistema linguístico é complexo; por exemplo, tem cerca de 70 sinônimos para água e 100 nomes para elefante.

O termo ganja tem origem nesta língua materna na forma da palavra “gañjā”, que se refere a um preparado feito com maconha. O termo também foi introduzido no hindi, uma língua indo-ariana mais recente, que descendia de uma forma primitiva do sânscrito védico. A palavra em hindi é muito semelhante: “gāñjā”.

Mas a palavra se refere apenas a um determinado produto derivado de plantas de maconha. Gāñjā é o nome dado às flores, enquanto “charas” se refere à resina e “bhang” às sementes e folhas.

A influência do sânscrito na terminologia da cannabis continua na era moderna. Não apenas continuamos a usar esses termos, mas os pesquisadores usaram a linguagem antiga para nomear novas moléculas relacionadas à maconha.

O renomado cientista e pesquisador de maconha Raphael Mechoulam descobriu o THC, o principal componente psicoativo da planta, em 1964. Em 1992, para entender os efeitos da maconha no corpo, ele descobriu um endocanabinoide chave que chamou de “anandamida”. Este termo vem do sânscrito “ananda”, que se traduz como “bem-aventurança” ou “alegria”. Curiosamente, os pesquisadores acreditam que essa molécula é responsável pela sensação de euforia do “barato do corredor”.

A palavra ganja tem uma história rica. Mas como exatamente esse antigo termo sânscrito se tornou uma parte importante do jargão global da maconha? Suas origens envolvem uma crueldade, mas também a fusão de culturas e o nascimento de uma nova religião.

Uma luz na escuridão: contribuição da “ganja” para o movimento Rastafari

A palavra “ganja” não chegou ao mundo ocidental por algum tipo de missão ou difusão cultural. Em vez disso, veio acorrentado das mãos do colonialismo e da escravidão. Em 1845, o Império Britânico começou a traficar escravizados indígenas no Caribe para fortalecer a força de trabalho nas plantações de açúcar. Mais de 40.000 deles vieram da Índia para a Jamaica nas décadas que se seguiram.

Os escravizados capturados perderam muito durante a viagem; família, liberdade e país. Mas a jornada traiçoeira não conseguiu livrar-se de todos os elementos de sua cultura. Alguns desses escravos trouxeram consigo um pedacinho de casa, incluindo a maconha.

Escravizados de outras partes do mundo já haviam chegado à ilha nos séculos anteriores. As vítimas do comércio de escravizados africanos no Atlântico foram levadas para a Jamaica em 1513. Conforme os britânicos contrabandearam indígenas e os levaram para a ilha, eles desenvolveram involuntariamente um caldeirão de culturas. Sua relação complementar afetaria o mundo e tudo relacionado à maconha para sempre.

Missionários cristãos espalharam o evangelho na Jamaica, e membros da vasta população africana deram a ele seu próprio toque cultural. Essa fusão de religião e cultura deu origem ao movimento Rastafari, uma religião baseada na Bíblia. No entanto, Rastas mantém pontos de vista que se opõem a muitos ramos do Cristianismo. Eles acreditam que o Céu está na Terra, que o espírito de Deus se manifesta como o Imperador Haile Selassie I, e colocam muita ênfase no significado espiritual da maconha.

O comércio de escravizados deixou uma triste marca na humanidade. Embora definido por atos de terrível maldade, uma luz foi acesa no meio de tudo isso. A combinação de culturas que surgiu deu vida a um novo sistema de crenças, baseado na esperança, na natureza e na paz.

Em geral, a mistura de cristianismo, das ricas culturas africanas e as raízes indígenas da maconha deu origem ao movimento rastafari. Curiosamente, os homens santos do movimento rastafari e do hinduísmo têm algumas coisas em comum. Por exemplo, ambos os adoradores rastafaris e sadhus têm o hábito de cultivar dreadlocks e fumam maconha usando instrumentos simples, como chillums e cálices.

O uso do termo “Ganja” atualmente

Figuras culturais como Bob Marley popularizaram o movimento rastafari e a ganja por meio da música reggae, e o reconhecimento de ambos se espalhou rapidamente na cultura ocidental. Até hoje, a palavra ganja continua a ser amplamente associada à cultura jamaicana. Embora não se dê muita atenção à origem da palavra, o próprio termo está presente em toda a cultura canábica ocidental, de dispensários e bancos de sementes a música e filmes. Claro, não há nada de errado nisso, desde que se respeite a história desse termo tão difundido hoje.

Referência de texto: Royal Queen

A história da maconha na África

A história da maconha na África

O continente africano tem uma longa e rica história com a cannabis. Parte dela é documentada, parte é deduzida de vestígios arqueológicos e muita coisa é mera especulação. Neste artigo analisamos a relação entre a África e a planta.

A origem da cannabis no continente africano é muito variada e enigmática. A erva existe na África há muito tempo, mas não sabemos quando exatamente chegou ao continente.

Em toda a África, há evidências do uso de maconha por várias tribos. Além dos vários aspectos das diferentes culturas africanas, a chegada dos exploradores europeus produziu mudanças radicais nessas práticas, mas não as encerrou. Ao longo dos séculos, a África produziu e consumiu grandes quantidades de maconha e, hoje, mais e mais países estão legalizando seu cultivo e uso.

Quando e por onde a maconha chegou à África?

Apesar de a África ter uma relação muito antiga com a cannabis, especialmente na área do Mediterrâneo, a planta não é nativa deste continente. A Cannabis sativa L. evoluiu originalmente na Ásia, e se expandiu gradualmente para o oeste.

Sabemos que a maconha é cultivada na África há pelo menos 1.000 anos, embora haja evidências de que pode ter chegado ao Egito há cerca de 5.000 anos. Mas essas indicações são muito escassas, por isso não sabemos a data exata. Os principais pontos de entrada parecem ter sido Madagascar e a bacia do Mediterrâneo. A cannabis chegou ao norte da África pelo Egito e pelo mar.

Nesta área, os registros históricos são muito mais antigos do que na grande maioria da África Subsaariana. No século 12, os escritores documentaram pela primeira vez o uso psicotrópico da maconha, tanto em sua forma comestível quanto em produtos para fumar. No Egito e nas margens do Mar Vermelho, a cultura da cannabis era semelhante à do Levante mediterrâneo. Porém, mais a oeste, o Magrebe (Marrocos, Argélia e Tunísia) desenvolveu sua própria cultura canábica.

Apesar da relação desta área com a produção de haxixe, este produto é uma criação bastante recente. Na verdade, é possível que tenha sido importado da Grécia, Turquia e Líbano; até 1921 não há evidências de que o haxixe foi produzido no Magrebe.

Rastreando o uso de maconha por meio da linguagem

Ao sul do Saara, a história da erva é ainda mais confusa. Isso se deve em parte à ausência de evidências arqueológicas, já que as poucas que existem (dos colonizadores) são imprecisas. Por exemplo, a maconha desta área costumava ser chamada de “tabaco africano”. Não está claro se esta foi uma tentativa deliberada de distanciar suas práticas das dos africanos, ou simplesmente um mal-entendido ao se referir à substância consumida. Felizmente, está bem claro a que se referem.

Uma das palavras mais úteis quando se trata de rastrear o uso de maconha no sul da África é “dagga”.

Dagga: uma jornada etimológica

Dagga, que deriva da palavra “dacha”, é um termo atribuído ao grupo étnico dos Khoikhoi do sul da África (embora sua origem exata não seja muito clara) e significa “cannabis”. No entanto, também se refere ao estado geral de intoxicação e à espécie Leonotis leonurus, membro da família da hortelã com folhas recortadas semelhantes às da maconha.

O primeiro registro documentado desta palavra data de 1658 e aparece no diário de Jan van Riebeeck, escrito como “daccha” (falaremos mais sobre isso adiante).

Parece que naquela época seu consumo se espalhou para muitas nações. E embora isso não nos diga por quanto tempo ela estava sendo usada antes disso, indica que a cannabis estava bastante difundida.

Mas sua origem exata permanece um mistério. Isso se deve em parte à alegada confusão entre a cannabis e a planta Leonotis leonurus. Sim, as duas compartilham o mesmo nome e têm folhas serrilhadas, mas suas flores são muito diferentes e apenas uma delas produz efeito psicoativo. Portanto, não está muito claro se a palavra surgiu para se referir a uma ou outra planta, ou se em um ponto ela foi usada incorretamente. Essa confusão levou alguns estudiosos a propor diferentes teorias.

Alguns argumentam que na verdade não é uma palavra africana, mas que vem do holandês “tabak”, caso em que nada nos diz sobre o uso de maconha na África pré-colonial. Outra teoria propõe que seja derivado de daXa-b, um termo que significa tabaco na língua Khoikhoi. Se você adicionar o prefixo “am”, que significa verde, ele se tornará amaXa-b: tabaco verde. Essa é a explicação proposta por Brian tu Toit e Jean Branford.

Quem consumia a cannabis na África?

Embora generalizado, o uso de maconha na África não era o mesmo em todo o continente. Por exemplo, parece que atingiu partes da África Ocidental durante o século XX. Mas, como já vimos, em outros lugares ela está presente há milhares de anos.

Antigo Egito: não podemos dar uma data exata para a origem do consumo da erva no Egito, mas sabemos que é muito antigo. Cordas e tecidos de cânhamo, por exemplo, eram usadas no antigo Egito. Além disso, é possível que este povo tenha dado aos canabinoides um uso holístico. A palavra shemshemet aparece com frequência em antigos textos medicinais, e sua tradução como cannabis é amplamente aceita. Seus usos variam do espiritual ao cerimonial. Não está claro se os antigos egípcios cultivavam ou importavam a maconha.

Os Khoikhoi: os Khoikhoi do sul da África eram conhecidos dos colonos holandeses pelo uso de cannabis. Nos tempos antigos, um grupo belicoso, quando os holandeses chegaram, era um povo pacífico focado na criação de gado. No início, eles coexistiram perfeitamente com os holandeses e, possivelmente, até tiveram uma relação cordial. No entanto, os bôeres continuaram a invadir seus territórios, roubando seus rebanhos e, logo após, começaram a escravizá-los. Van Riebeeck ouviu a palavra “dagga” dos Khoikhoi.

Eles perceberam que a cannabis era mais valiosa para eles do que ouro, o que implica que era uma parte fundamental de sua cultura. No entanto, não aprenderam a fumar até 1705 (antes disso, mastigavam). Essa prática rapidamente se espalhou para outras culturas africanas.

Os zulus: como veremos em breve, muitos exploradores repudiaram o efeito sedativo da erva sobre os africanos, mas essa visão não reflete a situação como um todo. Embora não saibamos o uso exato que eles deram, acredita-se que (de acordo com AT Bryant) o feroz povo zulu usava maconha antes de ir para a batalha. Mas as evidências que confirmam isso não são muito abundantes, portanto, não podemos considerá-las certas.

Os Bashilange: originalmente uma tribo considerada violenta, os Bashilange passaram por uma profunda evolução cultural após a descoberta da cannabis ou “riamba”. Na verdade, de acordo com Wissmann, eles até mudaram seu nome para Ben-Riamba, que significa “filhos do cânhamo”. Todas as noites, eles participavam de cerimônias onde fumavam maconha. E em dias especiais, consumiam quantidades ainda maiores. Até mesmo as punições consistiam em fumar maconha. Quanto mais grave o crime, mais o infrator deveria fumar. Se o crime fosse muito grave, o agressor deveria fumar até perder a consciência e indenizar a vítima com sal. Devido às mudanças produzidas nesta cultura, as hierarquias desapareceram, e os povos vizinhos, que antes haviam sido seus vassalos, recusaram-se a pagar impostos, aproveitando-se do fato de os Khoikhoi terem abandonado as armas. Então a rebelião estourou. A família real foi acusada de bruxaria e condenada, sem surpresa, a fumar maconha. Quando eles perderam a consciência, alguns aldeões tentaram assassiná-los e outros os defenderam. Os rebeldes fugiram e embora tenham retornado mais tarde, não sofreram punição. Apesar dessa tentativa de assassinato fracassada, o fim desta tribo estava próximo. A família real foi deposta e o culto à cannabis ou “riamba” foi encerrado. No entanto, muitas dessas práticas foram mantidas, incluindo as punições menos severas.

A cannabis na África colonial

Como já vimos, grande parte da documentação do consumo de erva na África Subsaariana vem dos próprios colonos. Inicialmente, o cultivo e o consumo de cannabis foram aceitos (e até incentivados). Entre 1870 e 1890, eram legais em grande parte da África colonizada.

No entanto, com o passar do tempo, essa aceitação começou a diminuir.

– Visões coloniais sobre o uso de maconha

Um dos principais motivos pelos quais os colonos se opunham ao consumo de erva entre os nativos era porque acreditavam que isso os tornava preguiçosos e afetava seu desempenho no trabalho. De acordo com Henry M. Stanley:

“O aspecto mais prejudicial para a força física é o costume quase universal de inalar de forma exagerada a fumaça da Cannabis sativa ou do cânhamo selvagem. Num ambiente descontraído, como nos dias quentes dos trópicos, quando o termômetro atinge 60°C ao sol, este povo, cujos pulmões e sinais vitais foram danificados por um excesso de complacência devido a esta prática nociva, descobre que não têm nenhuma força, nem mesmo para segurar. As dificuldades de se locomover em caravanas carregadas logo revelam sua fraqueza, e um a um vão saindo das fileiras, revelando sua impotência e enfermidades”.

Outros viam o uso de maconha como um costume imoral e anticristão. Como resultado, muitos missionários acharam essencial conter esse aspecto da cultura africana para salvar as almas devastadas pela ganja.

Onde o cultivo de cannabis foi incentivado, foi feito principalmente para exportação para a Europa, onde suas fibras eram usadas.

– A proibição da maconha na África

A partir de 1890, várias colônias passaram a penalizar o cultivo e o consumo da erva. Mas foram as políticas que se desenvolveram a milhares de quilômetros a oeste, do outro lado do Atlântico, que acabaram levando à proibição total da cannabis na África. Com uma atitude cada vez mais histriônica em relação à maconha por parte dos EUA, movimentos internacionais foram criados para bani-la. A guerra contra as drogas começou.

Em 1925, a Liga das Nações concordou em banir a maconha como parte da Convenção do Ópio de Genebra.

– Desenvolvimento de mercados clandestinos

Mas as pessoas continuaram a cultivar e fumar maconha mesmo onde era ilegal, e a África não foi exceção.

Mesmo antes de ser penalizada, a cannabis já era desaprovada por alguns. Seu cultivo e consumo foram sendo ocultados cada vez mais. Com o tempo, o que havia sido uma atividade generalizada foi em grande parte relegado às pessoas que eram vistas como parte inferior da sociedade.

Voltando à palavra “dagga”, é um bom exemplo de como a cannabis foi proibida na África. Em afrikaans, o sufixo “-ga” é usado para se referir a algo ruim, algo que causa nojo. É por isso que o Partido Nacional da África do Sul começou a usá-lo para dar-lhe um significado depreciativo. Ainda hoje, muitos ativistas pró-maconha se recusam a pronunciá-lo por esse motivo.

Apesar desta crescente atitude negativa em relação à cannabis, o seu cultivo ilegal continuou e continua a ser realizado em grande escala em todo o continente. Até a recente legalização da cannabis no Marrocos, este país era o maior exportador mundial de maconha cultivada ilegalmente.

Maconha na África atualmente

A maconha tem sido cultivada continuamente na África pelo menos nos últimos 1000 anos. Hoje o norte, e especialmente o Marrocos, é mundialmente famoso por produzir um dos melhores haxixe do mundo. Mas, como já mencionamos, o haxixe dessa área tem apenas cerca de um século e seu boom ocorreu nos últimos 50 anos.

Desde a crise financeira dos anos 1980, a produção africana de maconha ilegal aumentou. Mas os governos estão percebendo que cultivar essa planta é um grande negócio, então sua produção ilícita está dando lugar a um mercado legal.

Legalização

A legalização da cannabis está se espalhando pelo mundo, e a África não fica atrás. Até o momento, nove nações africanas legalizaram a erva de alguma forma. África do Sul, Uganda, Zimbábue, Zâmbia, Lesoto, República Democrática do Congo, Malaui, Eswatini e Marrocos.

Novas leis nos Estados Unidos e Canadá influenciaram fortemente o avanço dessas mudanças.

Mas essas mudanças trazem seus próprios problemas. Duvall identifica muito dessa tendência com o neocolonialismo. Isso se deve em parte ao fato de que muitas dessas leis exigem licenças e capital, que muitas vezes só as empresas mais ricas do Norte global podem pagar. Desses nove países, Duvall associa o neocolonialismo, ou o que ele chama de “canna-colonização”, a seis.

Este problema não reside na legalização da cannabis, mas sim na exclusão da produção local através do aumento do preço, o que significa que os benefícios não podem ser partilhados a nível nacional.

O futuro da cannabis na África

De uma forma ou de outra, parece que a África está destinada a se tornar um grande produtor de maconha. Não sabemos ainda como será esse mercado, e se o fator neocolonial é apenas uma dificuldade inicial ou algo mais endêmico.

O que está claro é que a longa relação da África com a erva não vai acabar repentinamente e, de fato, sua evolução está entrando em outra fase.

Referência de texto: Royal Queen

EUA: maconha já é o quinto cultivo mais valioso do país

EUA: maconha já é o quinto cultivo mais valioso do país

Um relatório da Leafly descobriu que a maconha legal ocupa mais de 13.042 fazendas estadunidenses e agora vale mais do que o algodão.

O mercado dos EUA para a produção legal de maconha superou o do algodão e já é o quinto cultivo mais valioso do país, de acordo com o relatório da Leafly Holdings, Inc. A empresa publicou este primeiro relatório em colaboração com a Whitney Economics, no qual analisam os dados disponíveis, bem como as perspectivas e projeções da indústria canábica em 11 estados onde o acesso à maconha é legal.

A análise constatou que nos estados que permitem a produção de maconha para uso adulto, já existem mais de 13.042 fazendas legais dedicadas à produção da planta que colhem aproximadamente 2.278 toneladas de cannabis por ano. De acordo com o relatório, esses números fazem da maconha o quinto cultivo mais valioso dos Estados Unidos, com uma safra no atacado de US $ 6,2 bilhões, o que a coloca acima do algodão e abaixo do trigo.

A cifra de 6,2 bilhões corresponde ao valor gerado pelas safras legais de cannabis em um ano. A cultura mais valorizada no país é o milho, com safra anual de 61 bilhões de dólares, seguida da soja, 46 bilhões, feno (17 bilhões) e trigo (9,3 bilhões). Esses são os números globais, mas em alguns estados a cannabis é o cultivo mais valioso, isso acontece no Alasca, Colorado, Massachusetts, Nevada e Oregon.

Referência de texto: Leafly / Cañamo

Mike Tyson diz que teria sido menos violento se tivesse fumado maconha no início de sua carreira no boxe

Mike Tyson diz que teria sido menos violento se tivesse fumado maconha no início de sua carreira no boxe

Ao anunciar sua nova linha de cannabis, ex-campeão dos pesos pesados ​​de boxe, Mike Tyson, diz que teria sido um lutador melhor e menos brigão fora do ringue se tivesse começado a fumar maconha no início de sua carreira.

“Minha vida era miserável, eu estava fora de controle”, disse Tyson ao repórter Zack Guzman do Yahoo! Finance. “Eu estava brigando com todo mundo. Se alguém me pedisse um autógrafo, eu daria um soco na cara dele. Estava uma bagunça e, depois que me aposentei, comecei a fumar. Que erro! Eu deveria ter fumado toda a minha carreira. Eu deveria ter fumado quando estava lutando porque isso me colocou em um estado de espírito diferente. Estou muito relaxado e quanto mais relaxado você estiver, melhor lutador você é. Pelo menos no meu caso”.

Quanto de erva Tyson precisa para se manter equilibrado? Em 2019, ele disse a um repórter que poderia chegar a gastar US $ 40.000 por mês.

Seus comentários recentes se alinham ao caminho centrado em plantas que adotou nos últimos anos. Ele atribuiu um renascimento pessoal e emocional ao psicodélico 5-MeO-DMT, derivado de uma ampla variedades de espécies de plantas e do sapo Bufo alvarius, e está trabalhando com uma empresa de biotecnologia fundada por outro ex-atleta profissional, o jogador de hóquei Daniel Carcillo, em uma abordagem guiada pela psilocibina para tratar lesões cerebrais. Seu podcast canábico intitulado “Hotboxin’ With Mike Tyson” apresentou entrevistas de celebridades que se tornaram melhor com o uso da erva. Em 2018, inaugurou uma fazenda no deserto de Mojave que planeja dedicar ao cultivo de maconha e ao turismo.

Mas não é em todo verdade que “o homem mais malvado do planeta” nunca consumiu maconha enquanto competia. Em 2000, ele testou positivo para cannabis e, como resultado, teve uma vitória anterior reclassificada como no-contest.

Tyson, que está com 55 anos, voltou aos ringues ao longo de sua carreira – a mais divulgada em 1998, quando voltou a competir após cumprir pena por estupro. Em novembro passado, fez uma luta de exibição de oito rounds com Roy Jones Jr. e recentemente confirmou à imprensa britânica The Sun que estaria de volta ao boxe em 2022, potencialmente para lutar com um dos irmãos Paul do YouTube, que tem 24 anos – e 26 anos, respectivamente.

Em uma entrevista para a Forbes, Tyson disse que parte desse espantoso poder regenerativo tem a ver com a cannabis – e psicodélicos.

“Eu penso (nos psicodélicos) como um intensificador”, disse Tyson. “Isso me faz melhor, mesmo no ringue. Os socos não doem tanto, têm muito a ver com meu retorno, os psicodélicos”.

Sua nova linha Tyson 2.0 será lançada em colaboração com a corporação integrativa de cannabis Columbia Cuidados Inc., e supostamente seus produtos canábicos vão de flor até bebidas, comestíveis e baseados pré-enrolados. Tyson vende sua linha Tyson Holistic de produtos de maconha desde 2016.

Referência de texto: Merry Jane

Redução de Danos: como controlar e prevenir a fome causada pelo uso de maconha

Redução de Danos: como controlar e prevenir a fome causada pelo uso de maconha

A fome causada pelo consumo da erva, a famosa larica, é uma consequência indulgente e deliciosa que a maconha pode proporcionar. Mas se você está tentando controlar a ingestão de calorias, isso pode atrapalhar. No post de hoje deixaremos algumas dicas de como controlar e até mesmo prevenir o aparecimento da larica.

Assim que os canabinoides ultrapassam a barreira hematoencefálica, a larica ataca. Algo que acontece com muita frequência é se deixar levar e comer qualquer besteira que esteja por perto.

Para muitas pessoas com problemas de apetite, essa fome pode ser benéfica. Por exemplo, pacientes em quimioterapia e pessoas com transtornos alimentares. Mas se não for controlada, a larica também pode levar a um ganho de peso significativo e indesejado.

Para algumas pessoas isso é tão sério que até tomam a decisão de parar com o consumo da erva. Mas se você quiser continuar desfrutando dos prazeres de um bom baseado sem preocupação com isso, aqui estão algumas dicas para tirar a fome da sua mente.

Por que a maconha causa larica?

O THC é o principal culpado por essa fome voraz. E de acordo com a ciência, tudo se baseia nos receptores CB1 do sistema endocanabinoide. Entre outras funções, esses receptores promovem a ingestão de alimentos.

Quando o THC chega ao corpo, ele ativa os receptores CB1, o que acaba causando uma reação de fome maior. Até o cheiro é muito mais perceptivo sob o efeito do THC.

Como prevenir a larica antes de fumar

Como diz o ditado, é melhor prevenir do que remediar. E se você decidiu firmemente resistir à larica, este velho ditado é perfeito para a ocasião.

– Faça com que seja difícil render-se à larica

O conforto costuma ser o caminho mais rápido para a tentação. E, se você é uma pessoa compulsiva com comida, antes que perceba, estará comendo batatas fritas como se não houvesse amanhã.

Nesse caso, certifique-se de que não é fácil sucumbir à fome. Uma maneira de fazer isso é não ter várias besteiras em casa. Tente não se esquecer disso na próxima vez que for às compras no supermercado.

Agora, se você tem filhos em casa, é normal que não queira privá-los desses prazeres da vida. Mas faça um favor a si mesmo e tranque a despensa, para garantir que a porta só se abra quando vocês estiverem todos juntos para desfrutar das coisas que há lá dentro.

– Coma coisas saudáveis ​​antes de fumar

O problema com a larica não é o próprio ato de comer, mas a quantidade de basteiras que você ingere. E devido à gula (quase) incontrolável que o THC provoca, tenha a certeza que ganhará algumas calorias após uma sessão.

Dito isso, outro recurso útil pode ser comer algo saudável antes de fumar. Escolha alimentos que você sabe que te satisfará pelas próximas horas, como aqueles com altas quantidades de água.

Para o lanche, tem opções muito boas, como torradas, bananas, amendoim, iogurte ou cereais. Coma bem nas refeições principais.

– Experimente diferentes cultivares (strains)

Como os especialistas em maconha bem sabem, nem todas as cultivares são iguais. Cada uma provoca uma reação diferente.

Certas variedades podem deixá-lo completamente incapaz de fazer qualquer coisa. Mas outras aumentarão seu desejo por um hambúrguer ou macarrão com queijo.

Na verdade, experimentar diferentes variedades é a parte divertida de se testar para resistir à fome. Observe quais dão a você essa fome voraz e quais não o fazem, e então aja de acordo.

Como conter a larica enquanto fuma

A larica pode ser uma consequência de fumar, mas não necessariamente. Existem várias maneiras de acabar com esses desejos durante suas sessões de fumaça.

– Mantenha-se ocupado

Aqui podemos citar outro ditado muito útil: “a preguiça é a mãe de todos os vícios”. Você fuma, senta e assiste um comercial de asas de frango na televisão. Logo depois, você pede frango frito em casa, só para você. Para piorar as coisas, você adiciona algumas cervejas e algo doce para finalizar.

Para evitar uma noite agitada, tente se manter ocupado. Por exemplo, aprenda algo novo, escreva em seu diário, faça exercícios, medite, ouça música… Faça qualquer coisa que não seja minimamente relacionada à comida, e você agradecerá por isso mais tarde.

– Escove seus dentes

Alguns alimentos deixam você se sentindo muito bem na boca por um longo tempo. Por exemplo, um prato de macarrão à bolonhesa. Também um pedaço de um bolo de chocolate saboroso e cremoso. Não há dúvida de que se você fumar com esses sabores persistentes no paladar, instantaneamente irá querer comer mais.

Mas você sabe o que pode matar esses sabores imediatamente? Uma pasta de dente refrescante. Enxágue com um pouco de água e escove os dentes antes de acender um baseado. É muito difícil sentir desejo por comida com um forte sabor de menta na boca. Com isso, deve se livrar da larica nas próximas horas.

– Mantenha-se hidratado

Às vezes, nossa mente pode pregar peças em nós, especialmente quando estamos no meio de uma viagem psicotrópica. A desidratação e a sede podem nos fazer acreditar que precisamos comer. Então, resolvemos isso pegando um biscoito recheado. As horas passam e o pacote de biscoitos que você abriu agora está praticamente vazio.

Evite essa situação mantendo-se hidratado. Se sentir vontade de comer alguma coisa, beba um copo d’água. Isso deve saciá-lo por muito tempo. Beber água também é uma boa maneira de combater a boca seca e a irritação na garganta.

Como combater a larica depois de fumar

Você está passando a noite de sexta-feira fumando sem parar e vegetando na frente da TV, mas começa a sentir muita fome, cada vez mais.

Não se preocupe, está indo muito bem e não é hora de ceder. Ainda tem tempo para evitar um ataque total da larica.

– Faça algum exercício

Já falamos sobre isso brevemente, mas vale a pena repetir. O exercício pode ser uma das atividades mais produtivas que você pode fazer enquanto está chapado. E algumas cultivares podem ajudá-lo com isso.

Na verdade, alguns atletas preferem treinar sob a influência da erva. E, pelo menos de acordo com alguns depoimentos, o THC pode tornar os treinos mais divertidos.

Faça sua pesquisa e escolha variedades que combinem bem com o exercício físico. Mas não faça nada muito extremo enquanto estiver funcionalmente limitado. Bater em um saco de pancadas? Sim. Escalar? Provavelmente não é uma boa ideia.

– Vá para a cama

Esta é a situação: você está prestes a retornar de sua viagem. Você está no sofá da sala na posição horizontal. A cozinha fica a alguns degraus à sua direita. Você vê uma caixa de chocolate no balcão. Você vai desistir?

Claro que não! Mas o melhor recurso é sair daquela sala. Levante-se e vá direto para o seu quarto. Nem olhe para aquela caixa de chocolate. Finja que não está lá ou que você não viu.

Quando você chegar ao seu quarto, dê um tapinha nas costas por seu grande esforço. É preciso muita força de vontade para dizer não por capricho, mas você conseguiu.

O que fazer se não conseguir vencer a larica

Independentemente de quanta força de vontade você tenha, às vezes a larica bate em você. Até o Superman tem sua criptonita. Mas, como já dissemos, o problema potencial não está no ato de comer, mas no que você come.

Existem muitas opções mais saudáveis. Se quiser se deliciar com batatas fritas e anéis de cebola, experimente essas alternativas. Você não se sentirá culpado por suas ações, e isso é sempre positivo.

Referência de texto: Royal Queen

GPR55: o terceiro receptor canabinoide?

GPR55: o terceiro receptor canabinoide?

O sistema endocanabinoide ajuda a manter o corpo humano em equilíbrio. Desde sua descoberta, foi revelado como ele regula os neurotransmissores e apoia os efeitos da cannabis. Os cientistas estão constantemente fazendo novas descobertas nesta área, e agora alguns estão propondo a existência de um terceiro receptor canabinoide: CB3.

Já explicamos o sistema endocanabinoide (SEC) para você, mas agora vamos nos aprofundar mais nele. Junte-se a nós enquanto exploramos as novas estruturas que disputam o título do terceiro receptor canabinoide, ou CB3. O SEC regula todos os tipos de processos no corpo humano, portanto, uma possível nova adição a essa ampla rede é muito interessante!

A planta da maconha contém centenas de moléculas que, quando consumidas, causam alterações bioquímicas únicas no corpo. Especificamente, vários tipos de canabinoides e terpenos se ligam aos receptores do SEC. Uma vez que este sistema está envolvido em muitos aspectos da fisiologia humana, estudos estão em andamento para determinar se e como esses ligantes do SEC (ligantes são produtos químicos que se ligam a receptores específicos) podem ser usados para tratar certas doenças – e são.

Além disso, os investigadores continuam a examinar o SEC em busca de outros componentes anteriormente desconhecidos ou não classificados. Isso inclui a identificação de novos receptores para compostos da cannabis, que podem desempenhar um papel importante no futuro.

Abaixo você descobrirá mais sobre o SEC e aprenderá sobre os principais candidatos a “CB3”, incluindo o fascinante, mas pouco conhecido GPR55. A ciência da cannabis continua avançando rapidamente, portanto, vale a pena acompanhar essas descobertas importantes.

Introdução ao sistema endocanabinoide

Para entender melhor a importância do conceito CB3 e como o GPR55 é um candidato ideal, devemos primeiro cobrir alguns princípios básicos do sistema endocanabinoide.

O SEC desempenha uma série de funções vitais na fisiologia humana. Ajuda a regular quase todos os demais sistemas do corpo, promovendo um estado de equilíbrio conhecido como homeostase. Mas como exatamente isso acontece?

Através de uma complexa dança entre os diferentes componentes: receptores, moléculas sinalizadoras e enzimas.

  • Receptores canabinoides

O SEC “clássico” inclui dois tipos de receptores canabinoides: o receptor canabinoide tipo 1 (CB1) e o tipo 2 (CB2). Ambos são encontrados em muitas áreas do corpo, desde neurônios e células do sistema imunológico até células da pele e dos ossos. Localizados na superfície da membrana plasmática das células, esses receptores são ativados por moléculas sinalizadoras do SEC.

Ambos CB1 e CB2 pertencem a um grupo de receptores denominado “receptores acoplados à proteína G” (GPCR, sigla em inglês). Quando uma molécula se liga a eles, eles causam alterações em uma “proteína G” localizada do outro lado da membrana plasmática. Essa mudança inicia uma cascata bioquímica que catalisa as mudanças necessárias dentro da célula.

  • Moléculas de sinalização: endocanabinoides

As moléculas de sinalização do SEC são conhecidas como endocanabinoides; “endo” significa “dentro” ou “no interior”. As células produzem esses produtos químicos sob demanda, liberando-os para se ligarem aos receptores canabinoides em outras células. Por exemplo, os neurônios pós-sinápticos produzem endocanabinoides e os enviam de volta (fluxo retrógrado) através da fenda sináptica para controlar o tráfego de neurotransmissores que chegam.

Dois tipos de endocanabinoides são encontrados no SEC: a anandamida (AEA) e o 2-araquidonilglicerol (2-AG). Ao se ligar aos receptores CB1 e CB2 na superfície das células, essas moléculas causam mudanças internas que ajudam a restaurar o equilíbrio de nossos sistemas.

Curiosamente, os endocanabinoides têm uma estrutura e função semelhantes aos canabinoides produzidos pela planta cannabis (fitocanabinoides). Portanto, moléculas como o THC são capazes de se ligar aos nossos receptores canabinoides e causar alterações celulares. Tendo em vista que alguns pesquisadores consideram o SEC como um “alvo terapêutico”, os canabinoides são objeto de um número crescente de estudos por seu potencial de modular este sistema fisiológico.

  • Enzimas

O terceiro grupo de componentes do SEC são as enzimas. Essas proteínas produzem endocanabinoides a partir de outras moléculas quando o corpo precisa delas; um processo conhecido como síntese. Eles também os quebram rapidamente quando concluem seu trabalho, em um processo chamado degradação.

  • Compreendendo o endocanabinoidoma

Algumas descobertas recentes levaram os pesquisadores a identificar outros componentes do SEC. O “endocannabinoidoma”, conhecido como “sistema endocanabinoide ampliado”, inclui uma série de ligantes, 20 enzimas metabólicas e mais de 20 receptores. Essa grande adição à rede inclui componentes que estão envolvidos em vários processos, desde a sinalização da dor à expressão gênica e até a queima de gordura. Essas descobertas abrem a porta para muitos outros mecanismos pelos quais os canabinoides poderiam atuar no corpo.

GPR55: O terceiro receptor canabinoide?

Sabemos que o CB1 e o CB2 pertencem à classe dos receptores acoplados à proteína G, mas os canabinoides também se ligam a outros membros dessa grande família, incluindo o receptor 55 acoplado à proteína G, simplesmente denominado GPR55. Anteriormente, os pesquisadores se referiam a esse receptor como um “receptor órfão”, uma vez que não se sabia quais eram seus ligantes endógenos. No entanto, vários ligantes do SEC são agora conhecidos por se ligarem a este receptor, incluindo a anandamida.

Os pesquisadores isolaram e reproduziram o GPR55 pela primeira vez em 1999. Esse receptor aparece em muitos lugares do corpo. No sistema nervoso central, encontramos níveis elevados de expressão no hipocampo (uma região do cérebro envolvida na memória e no aprendizado) e no cerebelo. Esse receptor também é encontrado em locais periféricos, incluindo células do baço, do sistema digestivo e das glândulas supra-renais. Estudos também encontraram níveis elevados de expressão de GPR55 em certas células cancerosas.

Curiosamente, o GPR55 tem “baixa homologia” (uma composição genética diferente) com o CB1 e o CB2; compartilha apenas 13,5% dos mesmos aminoácidos (os componentes básicos das proteínas) com o CB1 e 14,4% com o CB2. Apesar dessa diferença genética, alguns pesquisadores concluíram que o GPR55 merece o título de receptor CB3.

Alguns estudos usam um modelo de “rato knockout” para determinar os efeitos dos canabinoides. Basicamente, sem a genética que codifica essas proteínas, os camundongos não possuem receptores CB1 e CB2. No entanto, como os canabinoides às vezes produzem efeitos nesses camundongos, os pesquisadores começaram a procurar outros receptores onde ocorrem mudanças.

Um estudo publicado no “British Journal of Pharmacology” examinou vários canabinoides sintéticos e derivados de plantas no GPR55. Os resultados indicam que a anandamida, 2-AG, CBD e outras moléculas se ligam com sucesso ao GPR55.

GPR55 e o CBD

Mas o que isso significa para os usuários de maconha? Como essas descobertas mudarão a maneira como usamos cannabis? Descobrir como os canabinoides atuam no corpo ajuda a entender suas possíveis aplicações no campo da medicina. Por exemplo, estudos estão em andamento para explorar o papel do GPR55 em relação ao CBD e à epilepsia.

O CBD ganhou fama devido aos casos de crianças que sofriam de ataques epilépticos. Agora, os pesquisadores ainda estão tentando descobrir como exatamente o CBD funciona no corpo. E acontece que o GPR55 pode ter uma função.

Mas só porque o CBD se liga ao GPR55 não significa que ele “ative” esse receptor. Na verdade, atua como um antagonista, o que significa que inibe a ação de outras moléculas que ativam o receptor. A eficácia do CBD pode ser devido à sua capacidade de bloquear temporariamente substâncias químicas que aumentam a excitabilidade dos neurônios de forma que eles não possam se ligar ao receptor GPR55.

Pesquisadores da Universidade de Lodz, na Polônia, também sugeriram que os receptores GPR55 poderiam servir como um alvo terapêutico para a síndrome do intestino irritável, um distúrbio associado a sintomas de fadiga, perda de peso, diarreia persistente e dor abdominal. Estudos estão em andamento para determinar se o bloqueio desse receptor, por meio do uso de antagonistas, pode ajudar a controlar os sintomas da doença; tornando o CBD um possível candidato.

Outros receptores acoplados à proteína G

O amplo sistema de endocannabinoidoma inclui outros membros da família de receptores acoplados à proteína G. Vamos dar uma olhada em dois deles e entender por que eles também podem se juntar ao panteão dos receptores canabinoides no futuro.

GPR18: o receptor acoplado à proteína G 18 (GPR18), também conhecido como receptor N-araquidonilglicina (receptor NAGly), é outro candidato a receptor canabinoide. Tanto o THC quanto a anandamida se ligam com alta afinidade ao GPR18, enquanto o CBD se liga com baixa afinidade. Isso significa que este receptor compartilha algumas características com o CB1. Portanto, alguns pesquisadores afirmam que o GPR18 deve ser considerado um receptor canabinoide, tornando-o mais um candidato ao título de CB3.

O GPR18 é encontrado em maior extensão nos tecidos dos testículos e do baço, e também está presente no timo, intestino delgado e células brancas do sangue. Atualmente, está sendo investigado o papel desse receptor no controle da pressão arterial e na regulação da pressão intraocular.

GPR119: esse é outro novo receptor canabinoide que, no futuro, poderá ajudar no tratamento da diabetes. Este receptor é encontrado principalmente no sistema digestivo e nas células beta do pâncreas do corpo humano. No momento, são conhecidas apenas algumas moléculas de endocanabinoide com a capacidade de se ligar a esse receptor. Os pesquisadores continuam a explorar quais fitocanabinoides modulam o GPR119 e seu papel na regulação do ganho de peso e secreção de insulina.

O receptor CB3: um assunto em evolução

Embora os pesquisadores tenham descoberto o SEC pela primeira vez na década de 1960, eles ainda estão nos estágios iniciais dessa descoberta. Hoje continuam a mapeá-lo, debatendo os termos apropriados e descobrindo exatamente como as moléculas de cannabis afetam os diferentes receptores. Também é importante reconhecer que o GPR55 e seus receptores relacionados não são os únicos candidatos ao título de CB3.

Alguns cientistas afirmam que o TRPV1 (um receptor que detecta o calor e a dor) deveria receber essa distinção, pois tanto o CBD quanto a anandamida se ligam a esse receptor.

Outro grupo de receptores, conhecidos como receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPARs), também são candidatos adequados para essa posição. Eles são encontrados no núcleo das células e estão envolvidos na expressão gênica e no metabolismo da gordura. Vários canabinoides interagem com esses receptores, como o THC, o CBD, o THCV e o CBG.

Mas esses receptores são apenas a ponta do iceberg. É provável que pesquisas futuras descubram muito mais receptores que eventualmente se tornarão membros do SEC, um sistema endocanabinoide muito mais amplo do que conhecemos hoje. Essas mudanças são simplesmente a forma como a ciência funciona.

As diferentes áreas de estudo estão constantemente passando por grandes mudanças devido a novas descobertas; o que pensamos que sabemos com certeza hoje pode ser duvidoso amanhã. Nossa missão é manter-se atualizado sobre esse assunto fascinante, para que possa estar sempre informado sobre os desenvolvimentos importantes da planta, à medida que ocorrem.

Referência de texto: Royal Queen

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