As faces mais impensáveis da solidariedade são frequentemente conhecidas em tempos de emergência. A pandemia da Covid-19 é um desses casos e, segundo o site La Mañana de Neuquén, a maconha está presente em uma grande ação social na Argentina.
No Alto Valle de Nequén (oeste do país), um grupo de pessoas decidiu trocar sementes de maconha por alimentos para um refeitório comunitário. Essa é uma campanha pela solidariedade dos cultivadores de maconha do Alto Valle. Segundo afirmam, 800 negociações foram feitas em 10 dias. Também disseram que nunca receberam tantas doações juntos no refeitório de Las Perlas, como nestes tempos de pandemia.
Há duas semanas chovem caixas com alimentos, roupas e brinquedos, o motivo? Uma curiosa campanha dos Cannabicultores del Alto Valle, na qual dão sementes de maconha em troca dessas mercadorias.
Devido ao sucesso da proposta, pretendem repeti-la nos próximos meses. A campanha se chama Troca Solidária e tem dois objetivos: Ajude a área do refeitório Las Balsitas, da qual dependem mais de 75 crianças, e responda às repetidas perguntas dos vizinhos que procuram sementes de maconha para cultivar e produzir seu próprio óleo.
As doações são recebidas de terça a sábado, de 16 a 20, na unidade Fava 331 daquela cidade. Em troca de alimentos, dão um kit de três sementes “regulares”, ou seja, não feminizadas.
Na última terça-feira, 15 de setembro, haviam ultrapassado 800 trocas, com uma média de 80 por dia desde o início do movimento de solidariedade. O fechamento será na segunda-feira (21) com um sorteio.
“Foi impressionante porque recebemos uma grande adesão, saiu do controle”, disse Cathy Figueroa, uma das organizadoras. Ela acrescentou que, em Las Perlas, estão mais do que gratos.
“Eles nos disseram que têm o refeitório há um ano e meio e nunca receberam tanta comida com tanta frequência”, disse.
Disseram que várias cidades da região se organizaram para participar, “e uma pessoa passava pela ponte e trazia mercadorias de Cinco Saltos e Cipolletti”. Também foram convidados a replicar a proposta em Río Negro, mas estão com um número limitado de kits.
As sementes que trocaram foram, por sua vez, de doações de pessoas que cultivam na região.
O intercâmbio gratuito é comum entre eles e por isso pensaram em um concurso aberto para todos os residentes interessados.
“É para quem quer começar a cultivar e não tem a possibilidade de obter semente, que damos a eles, mas em troca queremos que ajudem alguém”, disse Cathy.
Ela lembrou que a sanção da lei da maconha para fins medicinais levou muitas pessoas com doenças crônicas a comprar óleo em feiras de rua.
“Algumas pessoas enganam eles, porque tem produtos que trazem que avaliamos com reagentes, e não têm nada”, disse.
“Há uma demanda social incrível com a maconha e, como grupo, tivemos que colocar a mochila nas costas porque o Estado, que teria que cuidar disso, não está lá; e quem o usa medicinalmente não consegue um óleo seguro que dure no tempo”, comentou.
Ela destacou que, devido à massividade com que os moradores responderam à campanha, decidiram ver como continuar a troca com mais doações até o final do ano.
Junto com a troca solidária de sementes, os cultivadores do Alto Valle promoverão uma portaria que regulamenta o cultivo de cannabis na cidade.
A medida é semelhante à analisada em Plottier, Cipolletti e Fernández Oro, cidades próximas.
Cathy Figueroa, integrante do grupo, explicou que ainda esta semana apresentarão o projeto no Conselho Deliberativo de Neuquén.
“Faremos como um grupo, sem nenhum bloco político que nos represente, e pode ser um pouco mais difícil conseguir o que queremos, mas preferimos esse caminho”, esclareceu.
“Nós, cultivadores de maconha, buscamos a regulamentação da legislação nacional e também decidimos trabalhar de forma municipal; aqui, como Plottier apresentou o projeto e se saíram muito bem, pretendemos fazer o mesmo em Neuquén”, explicou.
Também disse que eles trabalham em paralelo com outros integrantes.
“Com médicos interessados em melhorar a maconha, as variedades que existem, e com o laboratório da Universidade de Comahue, que faz a rastreabilidade dos óleos que produzimos”, disse.
Acrescentou que, para quem está começando com as sementes, eles dão cursos de fitopreparação, para que possam cultivar e produzir, e que ninguém os engane.
Uma nova ideia legislativa para a regulamentação do uso adulto e do autocultivo de maconha chegou no portal E-cidadania do Senado Federal.
A ideia propõe a alteração da atual lei das drogas vigente no país (11.343/2006), regulamentando o uso adulto e o autocultivo da maconha. Estipulando uma quantidade permitida de até 20 plantas, ou mais, por pessoa, fechando assim a lacuna aberta na distinção entre usuários e traficantes.
A ideia em questão, feita pelo ativista e CEO do DaBoa Brasil, Diego Brandon, também propõe reformas de justiça social, garantindo a proteção aos consumidores e cultivadores e medidas de equidade social na indústria legal da maconha. Além de também propor a garantia de prioridade aos que já sofreram alguma forma de repressão, ou foram presos pelo uso ou cultivo da planta, na participação da indústria legal da cannabis.
Ao receber 20.000 apoios, a ideia se tornará uma Sugestão Legislativa e será debatida pelos Senadores. Clique aqui para assinar e compartilhe a proposta.
Sendo uma das plantas mais versáteis do planeta, a importância da maconha na sociedade vai muito além do que muitos atualmente falam. A ênfase apenas ao uso medicinal e a insistência na política de repressão contra usuários, principalmente cultivadores, só prova que existe um grande interesse por trás das regulamentações que estão surgindo no Brasil.
Como sabemos, durante muito tempo foram feitas campanhas contra a planta baseadas em mentiras, preconceitos, segregações e interesses políticos e econômicos. Não é à toa que a mentalidade e os discursos proibicionistas dos anos 30 ainda se fazem presente nos dias de hoje.
Atualmente, mesmo com tantas informações a disposição em um clique, muitos ignoram a realidade e acreditam em qualquer falácia. Principalmente quando essas falácias são fomentadas por pessoas que se dizem profissionais da erva. Alguns por puro interesse e pensando em pacientes como cifrões, outros por irresponsabilidade ou simplesmente pela falta de conhecimento – que não deixa de ser irresponsabilidade por se autoproclamarem experts da cannabis.
Após apoiarem a regulamentação da Anvisa e serem jogados para escanteio pela farmacêutica, empresas, como a do cânhamo e associações, já buscam outros métodos para tentar achar um espaço no tão cobiçado mercado canábico. Infelizmente, como ficou claro para quem lê as entrelinhas, eles esqueceram novamente de mencionar quem são os verdadeiros heróis que mantiveram as plantas vivas até aqui, antes mesmo de mães e pais buscarem na maconha o tratamento necessário para seus filhos. Se você acha isso um tanto quanto exagerado, é só perguntar para qualquer presidente de associação no Brasil, de onde veio o conhecimento para cultivarem as plantas que, muitos deles clandestinamente, produzem para vender o óleo aos seus pacientes. A resposta é só uma: de cultivadores que plantam para ter um fumo de qualidade e não financiar o crime organizado.
Tendo isso em mente, só vem uma palavra para descrever tudo que se passa na cabeça do jardineiro que, colocando em risco sua própria liberdade, ajudou a trazer o conhecimento para que poucas famílias e associações tenham acesso à planta. Essa palavra é: ingratidão.
Por isso, legalizar a informação verdadeira em tempos de proibição se faz mais que necessário. É preciso estar plantando a conscientização onde houver pessoas dispostas a lutar por uma mudança real que afeta diretamente não só a economia do país, criando milhares de novos empregos e abrindo espaço para vários setores, como também pode trazer melhorias para o meio ambiente, o bem-estar e a saúde, da qual poderíamos ficar horas descrevendo seus benefícios e aplicações.
Sabemos que atualmente os grandes males da sociedade são desencadeados pela maçante rotina a que somos impostos e é cada vez mais comum ver pessoas sofrendo de estresse, ansiedade, depressão e insônia. A maioria das pessoas sabe que sofrem desses males mesmo sem nunca ter passado por um consultório ou ter recebido um papel com uma assinatura. No Brasil já existem casos de habeas corpus de cultivo para pessoas com depressão e insônia. Fica aqui uma pergunta, se alguns poucos podem plantar por isso, por qual motivo a mesma medida não pode ser aplicada para todos os outros cidadãos sem precisar passar por toda a burocracia de controle do sistema? Estamos falando de uma planta! Sendo uma das medicinas tradicionais mais antigas conhecidas pela humanidade, a maconha é um presente dado gratuitamente pela natureza. Repetindo, G-R-A-T-U-I-T-A-M-E-N-T-E! Desconfie de quem disser o contrário.
Hoje ainda sofremos as mazelas da proibição causada pela ganância de pessoas influentes do passado, assim herdada por seus sucessores, na qual, sempre baseada em atitudes racistas e preconceituosas, continuam prendendo usuários e cultivadores jogando-os em celas ao lado de todos os tipos de criminosos, independente da gravidade do crime cometido. A política de perseguição e repressão causa danos irreparáveis nas pessoas que passam por essa situação, em seus familiares e, consequentemente, em toda a sociedade.
Por essas e muitas outras questões, se você é usuário ou até mesmo paciente, não adianta defender apenas uma regulamentação que visa só os interesses individuais de indústrias que sempre foram contra a maconha, como é o caso da farmacêutica e o atual discurso de muitos “profissionais da maconha medicinal” no Brasil. Uma regulamentação decente precisa reparar os danos causados pela proibição naqueles que tiveram sua liberdade caçada e nas famílias que tiveram vidas ceifadas. A luta não é apenas pelas mães que precisam de medicamento para seus filhos, a luta também inclui as mães que perderam seus filhos para a guerra às drogas ou que visitam seus filhos trancados nos presídios do país.
Algo precisa ser feito urgentemente ou continuaremos enxugando gelo enquanto a classe menos favorecida sofre as consequências dessa inútil e hipócrita guerra falida. Uma guerra contra os pobres, uma guerra contra a própria natureza.
Agora que você já sabe das coisas que precisa saber, fica a pergunta: você está do lado de quem?
Esse relato foi escrito em 1969 para uma publicação no livro Marihuana Reconsidered (1971) do Dr. Lester Grinspoon. Carl Sagan estava na casa dos trinta na época. Ele continuou a fumar maconha pelo resto de sua vida.
Tudo começou cerca de dez anos atrás. Eu havia atingido um período consideravelmente mais descontraído em minha vida – uma época em que senti que havia mais coisas para viver do que a ciência, uma época de despertar de minha consciência social e amabilidade, uma época em que estava aberto a novas experiências. Tornei-me amigo de um grupo de pessoas que ocasionalmente fumavam cannabis, irregularmente, mas com evidente prazer. Inicialmente, eu não estava disposto a participar, mas a aparente euforia que a maconha produzia e o fato de que não havia dependência fisiológica da planta me convenceram a tentar. Minhas experiências iniciais foram totalmente decepcionantes; não houve efeito algum, e comecei a pensar em uma variedade de hipóteses sobre a maconha ser um placebo que funcionava mais pela expectativa e hiperventilação do que pela química. Após cerca de cinco ou seis tentativas frustradas, no entanto, aconteceu. Eu estava deitado de costas na sala de estar de um amigo, examinando ociosamente o padrão de sombras no teto lançado por um vaso de plantas (não cannabis!). De repente, percebi que estava examinando um Volkswagen em miniatura intricadamente detalhado, distintamente delineado pelas sombras. Fiquei muito cético com essa percepção e tentei encontrar inconsistências entre Volkswagens e o que vi no teto. Mas estava tudo lá, até calotas, placas, cromo e até a pequena alça usada para abrir o porta-malas. Quando fechei os olhos, fiquei surpreso ao descobrir que havia um filme no interior das minhas pálpebras. Flash… uma cena simples do campo com uma fazenda vermelha, um céu azul, nuvens brancas, caminho amarelo serpenteando por colinas verdes até o horizonte… Flash… mesma cena, casa laranja, céu marrom, nuvens vermelhas, caminho amarelo, campos violetas… Flash… Flash… Flash. Os flashes surgiram uma vez por batimento cardíaco. Cada flash trazia a mesma cena simples, mas cada vez com um conjunto diferente de cores… tons requintadamente profundos e surpreendentemente harmoniosos em sua justaposição. Desde então, fumei ocasionalmente e gostei bastante. Amplia sensibilidades torpedas e produz efeitos para mim ainda mais interessantes, como explicarei em breve.
Lembro-me de outra experiência visual inicial com cannabis, na qual vi uma chama de vela e descobri no coração da chama, com magnífica indiferença, o cavalheiro espanhol de chapéu preto e capa que aparece no rótulo da garrafa de xerez Sandeman. A propósito, observar o fogo quando chapado, especialmente através de um daqueles caleidoscópios prismáticos que visualizam seus arredores, é uma experiência extraordinariamente comovente e bonita.
Eu quero explicar que em nenhum momento eu pensei que essas coisas ‘realmente’ estavam lá. Eu sabia que não havia Volkswagen no teto e não havia homem do Sandeman na chama. Não sinto nenhuma contradição nessas experiências. Há uma parte de mim fazendo, criando as percepções que na vida cotidiana seriam bizarras; há outra parte de mim que é um tipo de observador. Cerca da metade do prazer vem da parte do observador, apreciando o trabalho da parte do criador. Sorrio, ou às vezes até rio alto das imagens no interior das minhas pálpebras. Nesse sentido, suponho que a maconha seja psicotomimética, mas não encontro o pânico ou o terror que acompanha algumas psicoses. Possivelmente, isso é porque eu sei que é minha própria viagem e que posso descer rapidamente a qualquer momento.
Enquanto minhas primeiras percepções eram todas visuais e curiosamente carentes de imagens de seres humanos, esses dois itens mudaram ao longo dos anos. Acho que hoje um único baseado é suficiente para me deixar chapado. Testo se estou chapado, fechando os olhos e procurando os flashes. Eles vêm muito antes de haver alterações nas minhas percepções visuais ou outras. Eu acho que esse é um problema de sinal para ruído, o nível de ruído visual é muito baixo com os olhos fechados. Outro aspecto teórico da informação interessante é a prevalência – pelo menos nas minhas imagens em flashes – de desenhos animados: apenas os contornos de figuras, caricaturas, não fotografias. Eu acho que isso é simplesmente uma questão de compactação de informações; seria impossível compreender o conteúdo total de uma imagem com o conteúdo informativo de uma fotografia comum, digamos 108 bits, na fração de segundo que um flash ocupa. E a experiência do flash é projetada, se é que posso usar essa palavra, para apreciação instantânea. O artista e o espectador são um. Isso não quer dizer que as imagens não sejam maravilhosamente detalhadas e complexas. Recentemente, tive uma imagem na qual duas pessoas estavam conversando e as palavras que estavam dizendo formariam e desapareceriam em amarelo acima de suas cabeças, a uma frase por batimento cardíaco. Dessa forma, foi possível acompanhar a conversa. Ao mesmo tempo, uma palavra ocasional aparecia em letras vermelhas entre os amarelos acima de suas cabeças, perfeitamente em contexto com a conversa; mas se alguém se lembrasse dessas palavras vermelhas, enunciaria um conjunto bem diferente de declarações, criticamente penetrante da conversa. Todo o conjunto de imagens que descrevi aqui, com, eu diria, pelos menos, 100 palavras amarelas e algo como 10 palavras vermelhas, ocorreu em menos de um minuto.
A experiência com a maconha melhorou bastante minha apreciação pela arte, um assunto que eu nunca havia apreciado muito antes. O entendimento da intenção do artista, que eu posso alcançar quando estou chapado, às vezes transporta para quando estou deprimido. Essa é uma das muitas fronteiras humanas que a maconha me ajudou a atravessar. Também houve algumas ideias relacionadas à arte, não sei se são verdadeiras ou falsas, mas foram divertidas de formular. Por exemplo, passei algum tempo olhando o trabalho do surrealista belga Yves Tanguey. Alguns anos depois, emergi de um longo mergulho no Caribe e afundei exausto em uma praia formada pela erosão de um recife de coral nas proximidades. Ao examinar ociosamente os fragmentos de coral arqueados em tons pastel que compunham a praia, vi diante de mim uma vasta pintura de Tanguey. Possivelmente Tanguey tenha visitado a mesma praia na sua infância.
Uma melhoria muito semelhante na minha apreciação pela música ocorreu com a maconha. Pela primeira vez, pude ouvir as partes separadas de uma harmonia de três partes e a riqueza do contraponto. Desde então, descobri que músicos profissionais podem facilmente manter muitas partes separadas em suas cabeças, mas essa foi a primeira vez para mim. Mais uma vez, a experiência de aprendizado quando estava chapado, pelo menos até certo ponto, foi transportada quando estava deprimido. O prazer da comida é amplificado; emergem sabores e aromas que, por algum motivo, normalmente parecemos estar muito ocupados para perceber. Eu sou capaz de dar toda a minha atenção à sensação. Uma batata terá uma textura, um corpo e um sabor semelhante ao de outras batatas, mas muito mais. A maconha também aumenta o prazer do sexo – por um lado, oferece uma sensibilidade requintada, mas, por outro lado, adia o orgasmo: em parte me distraindo com a profusão de imagens passando diante dos meus olhos. A duração real do orgasmo parece prolongar-se bastante, mas essa pode ser a experiência usual de expansão do tempo que vem com o consumo de maconha.
Não me considero uma pessoa religiosa no sentido usual, mas há um aspecto religioso em algumas altas. A sensibilidade aumentada em todas as áreas me dá uma sensação de comunhão com o meu entorno, animado e inanimado. Às vezes, surge uma espécie de percepção existencial do absurdo e vejo com terrível certeza as hipocrisias e a postura de mim e dos meus semelhantes. E em outros momentos, há um sentido diferente do absurdo, uma consciência divertida e extravagante. Ambos os sentidos do absurdo podem ser comunicados, e alguns dos momentos mais gratificantes que tive foram compartilhando conversas, percepções e humor. A maconha nos dá a consciência de que passamos a vida inteira sendo treinados para negligenciar, esquecer e tirar da cabeça. Uma sensação de como o mundo realmente é pode ser enlouquecedora; a cannabis me trouxe alguns sentimentos sobre como é ser louco, e como usamos essa palavra ‘louco’ para evitar pensar em coisas que são muito dolorosas para nós. Na União Soviética, dissidentes políticos são rotineiramente colocados em manicômios. O mesmo tipo de coisa, talvez um pouco mais sutil, ocorre aqui: ‘você ouviu o que Lenny Bruce disse ontem? Ele deve estar louco. Quando estava chapado de maconha, descobri que havia alguém dentro daquelas pessoas que chamamos de loucas.
Quando estou chapado, posso penetrar no passado, relembrar memórias de infância, amigos, parentes, brinquedos, ruas, cheiros, sons e gostos de uma época que desapareceu. Eu posso reconstruir as ocorrências reais em eventos da infância que apenas metade foram entendidas na época. Muitas, mas nem todas as minhas viagens de cannabis, têm em algum lugar um simbolismo significativo para mim, que não tentarei descrever aqui, um tipo de mandala gravada na alta. A associação livre a esta mandala, tanto visual quanto como brincadeira de palavras, produziu uma variedade muito rica de ideias.
Existe um mito sobre tais altas: o usuário tem uma ilusão de grande insight, mas não sobrevive ao escrutínio pela manhã. Estou convencido de que isso é um erro e que os insights devastadores alcançados quando altos são insights reais; o principal problema é colocar essas ideias de uma forma aceitável para o eu completamente diferente que somos quando estamos deprimidos no dia seguinte. Alguns dos trabalhos mais difíceis que já fiz foram colocar essas ideias em fita ou por escrito. O problema é que dez ideias ou imagens ainda mais interessantes precisam ser perdidas no esforço de gravar uma. É fácil entender por que alguém pode pensar que é um desperdício de esforço envidar todos esses problemas para definir o pensamento, uma espécie de intrusão da Ética Protestante. Mas como vivo quase toda a minha vida, fiz um esforço – acho que com sucesso. Aliás, acho que ideias razoavelmente boas podem ser lembradas no dia seguinte, mas apenas se algum esforço tiver sido feito para defini-las de outra maneira. Se eu escrever o insight ou contar a alguém, lembro-o sem ajuda na manhã seguinte; mas se eu apenas disser a mim mesmo que devo fazer um esforço para lembrar, nunca o faço.
Acho que a maioria dos insights que recebo quando chapado são sobre questões sociais, uma área de conhecimento criativa muito diferente daquela pela qual sou geralmente conhecido. Lembro-me de uma ocasião em que tomava banho com minha esposa quando estava chapado, na qual tive uma ideia das origens e invalidez do racismo em termos de curvas de distribuição gaussiana. De certa forma, era um ponto óbvio, mas raramente falado. Eu desenhei as curvas com sabão na parede do chuveiro e fui escrever a ideia. Uma ideia levou a outra e, ao final de cerca de uma hora de trabalho extremamente árduo, descobri que havia escrito onze ensaios curtos sobre uma ampla gama de tópicos sociais, políticos, filosóficos e biológicos humanos. Devido a problemas de espaço, não posso entrar nos detalhes desses ensaios, mas em todos os sinais externos, como reações do público e comentários de especialistas, eles parecem conter informações válidas. Eu os usei em discursos de início de universidade, palestras públicas e em meus livros.
Mas deixe-me tentar ao menos dar o sabor do tal insight e seus acompanhamentos. Uma noite, com muita maconha, eu estava mergulhando na minha infância, um pouco de autoanálise e fazendo o que me parecia um progresso muito bom. Fiz uma pausa e pensei como era extraordinário que Sigmund Freud, sem a ajuda de drogas, tivesse conseguido sua própria autoanálise notável. Mas então me ocorreu como um trovão que isso estava errado, que Freud passou a década anterior à sua autoanálise como experimentador e proselitista de cocaína; e me pareceu muito aparente que as genuínas ideias psicológicas que Freud trouxe ao mundo eram pelo menos em parte derivadas de sua experiência com drogas. Não tenho ideia se isso é de fato verdade ou se os historiadores de Freud concordariam com essa interpretação, ou mesmo se tal ideia foi publicada no passado, mas é uma hipótese interessante e que passo primeiro pelo escrutínio no mundo dos baixos.
Lembro-me da noite em que percebi de repente como era estar louco, ou das noites em que meus sentimentos e percepções eram de natureza religiosa. Eu tinha uma sensação muito precisa de que esses sentimentos e percepções, escritos casualmente, não suportariam o escrutínio crítico habitual que é meu estoque no negócio como cientista. Se eu encontrar de manhã uma mensagem para mim mesmo da noite anterior, informando-me de que há um mundo ao nosso redor que mal sentimos, ou que podemos nos tornar um com o universo, ou mesmo que certos políticos são homens desesperadamente assustados, posso tender a descrer; mas quando estou chapado, conheço essa descrença. E, portanto, tenho uma fita na qual me exorto a levar a sério essas observações. Eu digo, “ouça com atenção, seu filho da puta da manhã! Esse material é real!”. Eu tento mostrar que minha mente está funcionando claramente; Lembro-me do nome de um conhecido do ensino médio em que não pensava há trinta anos; Descrevo a cor, a tipografia e o formato de um livro em outra sala e essas memórias passam por escrutínio crítico pela manhã. Estou convencido de que existem níveis genuínos e válidos de percepção disponíveis com a maconha (e provavelmente com outras drogas) que, através dos defeitos de nossa sociedade e nosso sistema educacional, não estão disponíveis para nós sem essas drogas. Tal observação se aplica não apenas à autoconsciência e às atividades intelectuais, mas também às percepções de pessoas reais, uma sensibilidade muito maior à expressão facial, entonações e escolha de palavras que às vezes produzem um relacionamento tão próximo que é como se duas pessoas estivessem lendo a mente um do outro.
A maconha permite que os não músicos saibam um pouco sobre como é ser um músico, e os não artistas compreendam as alegrias da arte. Mas não sou artista nem músico. E o meu próprio trabalho científico? Embora eu encontre uma curiosa desinclinação em pensar em minhas preocupações profissionais quando chapado – as atraentes aventuras intelectuais sempre parecem estar em todas as outras áreas -, fiz um esforço consciente para pensar em alguns problemas atuais particularmente difíceis em meu campo, quando chapado. Funciona, pelo menos até certo ponto. Acho que posso demonstrar, por exemplo, uma série de fatos experimentais relevantes que parecem ser mutuamente inconsistentes. Por enquanto, tudo bem. Pelo menos o recall funciona. Então, ao tentar conceber uma maneira de reconciliar os fatos díspares, pude pensar em uma possibilidade muito bizarra, um que tenho certeza que nunca teria pensado. Escrevi um artigo que menciona essa ideia de passagem. Eu acho que é muito improvável que seja verdade, mas tem consequências que são experimentalmente testáveis, que é a marca registrada de uma teoria aceitável.
Mencionei que, na experiência com maconha, há uma parte de sua mente que continua sendo um observador imparcial, capaz de derrubá-lo às pressas, se necessário. Em algumas ocasiões, fui forçado a dirigir com tráfego intenso quando estava chapado. Negociei sem dificuldade, apesar de pensar sobre a maravilhosa cor vermelho cereja dos semáforos. Acho que depois de dirigir não estou nem um pouco chapado. Não há flashes no interior das minhas pálpebras. Se você está chapado e seu filho está ligando, você pode responder com a mesma capacidade que costuma fazer. Não defendo a direção quando consumimos maconha, mas posso dizer por experiência própria que isso certamente pode ser feito. Minha alta é sempre reflexiva, pacífica, intelectualmente excitante e sociável, ao contrário da maioria das altas de álcool, e nunca há ressaca.
Há um aspecto muito agradável de auto-titulação da cannabis. Cada sopro é uma dose muito pequena; o intervalo de tempo entre inalar uma baforada e sentir seu efeito é pequeno; e não há desejo de mais depois que a alta está lá. Penso que a proporção, R, do tempo para detectar a dose necessária para o tempo necessário para tomar uma dose excessiva é uma quantidade importante. R é muito grande para LSD (que eu nunca tomei) e razoavelmente curto para cannabis. Pequenos valores de R devem ser uma medida da segurança dos medicamentos psicodélicos. Quando a maconha é legalizada, espero ver essa relação como um dos parâmetros impressos na embalagem. Espero que o tempo não esteja muito distante; a ilegalidade da maconha é escandalosa, um impedimento à plena utilização de uma droga que ajuda a produzir a serenidade e a percepção, sensibilidade e companheirismo tão desesperadamente necessários neste mundo cada vez mais louco e perigoso.
Michael Thompson, um cidadão negro de 69 anos que está na prisão há 25 anos e ainda tem entre 15 e 35 anos de pena, solicitou novamente o perdão. Ele foi preso por uma venda de maconha em 1994, mas agora neste estado a erva é legal e o crime pelo qual foi preso não é mais motivo para condenação no território.
O homem foi preso porque que quem ia comprar a erva era um informante da polícia. Thompson aceitou as acusações contra ele e se declarou culpado, o que lhe valeu uma sentença inicial de quatro anos de prisão. No entanto, um juiz considerou que o período de prisão foi curto e decidiu reabrir o caso convocando novamente as partes perante um júri de 12 pessoas, nenhuma das quais eram negras. O resultado foi a extensão da pena para 40 até 60 anos de prisão. Thompson é o prisioneiro que cumpre há mais tempo em uma prisão estadual de Michigan por um crime não violento.
O prisioneiro voltou a solicitar um indulto depois de receber negativas durante anos, e espera que desta vez o concedam e não tenha que acabar morrendo atrás das grades. “Recebi uma pena de 42 a 60 anos de prisão. Explique-me como pode ser que por tirar a vida de alguém você receba uma sentença menor que a minha”, diz Thompson em um vídeo produzido para chamar a atenção para o seu caso e fazer com que ele chegue à opinião pública. No estado de Michigan, a condenação por assassinato é punível com 13 anos de prisão.
É nítido que, assim como no Brasil, as prisões por vendas ou porte de drogas possuem cor e classe social. Até quando?
Muitos dos argumentos a favor ou contra a legalização são apoiados por mitos infundados, meias-verdades ou declarações tortuosas.
No post de hoje, deixamos alguns desses mitos e fatos conhecidos. Nesse caso, a maconha supera o mito.
Mito: Dirigir sob o efeito da maconha é tão ruim quanto dirigir bêbado.
Fato: Não é assim. Dirigir bêbado é muito, muito pior. Não há relatos que indiquem claramente que dirigir após fumar um baseado causa tantos acidentes ou mais do que sob a influência do álcool.
Mito: A maconha mata as células do cérebro.
Fato: Um estudo de 2015 desmentiu a ideia de que a maconha produz mudanças radicais no cérebro de jovens que se habituam ao uso de maconha. Também é verdade que são necessários mais estudos a esse respeito. Estudos também mostram que a maconha é neuroprotetora e induz a neurogênese.
Mito: A maconha é a porta de entrada para outras drogas.
Fato: Este é o mito mais desmontado. Na maioria dos casos, o álcool é a droga de entrada antes do que a maconha.
Mito: O CBD não é psicoativo.
Fato: É sim. Um produto químico é considerado psicoativo quando atua primariamente no sistema nervoso central e altera a função cerebral, resultando em alterações temporárias na percepção, humor, consciência ou comportamento. O CBD não possui o efeito intoxicante do THC e não resulta em alterações cognitivas óbvias ou efeitos de abstinência. No entanto, o CBD atravessa a barreira hematoencefálica e afeta diretamente o sistema nervoso central, resultando em alterações de humor e percepção.
Mito: A maconha cura a ansiedade das pessoas
Fato: Nem todo mundo consegue usar a maconha para curar a ansiedade. Às vezes, acontece exatamente o oposto. Um estudo da Universidade Vanderbilt estudou essa situação.
Mito: você pode ter uma overdose de maconha.
Fato: Não. Você não pode. Para isso acontecer, teria que fumar entre 238 e 1.113 baseados (15–70 gramas de THC puro) em um único dia, algo praticamente impossível. É isso.
Mito: a fome que a maconha dá não é real.
Fato: Bem, é sim. A maconha tende a abrir o apetite porque o paladar e o olfato aumentam depois de ingerida, levando a comer mais. Assim são as coisas. Se você come muito depois que fuma, não é sua culpa, é da ciência.
Mito: A maconha afeta mais os pulmões que o tabaco.
Fato: Sim, a maconha pode afetar os pulmões da mesma maneira que o tabaco. De fato, todos os tipos de toxinas que passam pelos pulmões podem causar doenças como o câncer. No entanto, o perigo do tabaco está acima da maconha, além da sua toxicidade, a quantidade de tabaco consumida é maior. Os fumantes consomem muito mais cigarros do que o usuário moderados de maconha. Portanto, não se trata tanto do que é melhor, e sim o quanto fuma.
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