As preocupações foram levantadas novamente depois que a Autoridade da Cannabis do país realizou uma conferência com líderes da indústria.
Malta tornou-se o primeiro país europeu a regulamentar o acesso ao uso adulto da cannabis no final de 2021. A lei estabeleceu duas formas de acesso, ambas não comerciais: autocultivo e clubes de cannabis. Desta forma, pretendeu-se fazer prevalecer as políticas destinadas a reduzir os malefícios do consumo, procurando impedir a entrada de interesses privados que façam do uso adulto da maconha uma atividade da qual se obtenham benefícios econômicos.
Mas desde que a primeira presidente da autoridade de Uso Responsável de Cannabis de Malta, Mariella Dimech, foi demitida em novembro passado, as dúvidas sobre o futuro da regulamentação não pararam de crescer. Após a demissão, Dimech declarou que durante o período em que trabalhou na instituição esteve “sem pessoal, sem orçamento”, e que teve de lidar “com uma estratégia política e uma estratégia de decisão com a qual não concordava”. A pessoa nomeada para substituir Dimech é o ex-diretor da Caritas Malta, Leonid McKay, e esta mudança já preocupou grupos ativistas, que apontaram que a ONG Caritas já se manifestou no passado contra a regulamentação da maconha.
As preocupações aumentaram novamente na sociedade civil maltesa esta semana depois que a Autoridade de Uso Responsável de Cannabis realizou uma conferência para delinear algumas regras para futuros clubes sociais. Num editorial do jornal Times of Malta, nota-se que os principais oradores da conferência foram “líderes da indústria” e especialistas em áreas como cultivo, distribuição, neurociência, negócios ou direito, não estando nenhum dos convidados diretamente relacionado com o aspecto comunitário do uso da maconha.
“O novo líder da ARUC, Leonid McKay, declarou sua oposição à comercialização, mas uma imagem diferente emerge da conferência. O controle sobre a cannabis parece estar escapando da comunidade para as mãos de interesses comerciais”, informou o jornal, observando que altas taxas foram propostas para a abertura de clubes canábicos, o que pode levar à discriminação por razões econômicas contra as pessoas que gostariam de estabelecer um negócio.
Referência de texto: Cáñamo / Times of Malta
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