Segundo os pesquisadores, misturas psicodélicas eram preparadas para celebrar rituais religiosos durante o parto.
Diferentes civilizações antigas utilizavam substâncias, tanto para fins ritualísticos como recreativos. Mas até agora não havia muita informação sobre o império egípcio. Acontece que um grupo de pesquisadores descobriu resíduos de substâncias psicodélicas dentro de um copo com mais de dois mil anos e no qual também havia vestígios de fluidos corporais e álcool.
As descobertas, que já tinham sido divulgadas no ano passado, foram publicadas recentemente na revista Scientific Reports e, pela primeira vez, podem ser identificados os restos químicos das misturas que eram bebidas em copos decorados com a cabeça de Bes, uma antiga divindade egípcia da fertilidade, proteção, cura medicinal e purificação mágica. “Os egiptólogos há muito especulam para que serviam os copos com a cabeça de Bes e que tipo de bebida, como água sagrada, leite, vinho ou cerveja. Os especialistas não sabiam se essas xícaras eram usadas na vida cotidiana, para fins religiosos ou em rituais mágicos”, disse Branko van Oppen, coautor do estudo e curador de Arte Grega e Romana do Museu de Arte de Tampa, no EUA, e onde se encontra a peça analisada. Na análise foram encontradas quatro categorias de substâncias: base alcoólica, aromatizantes, fluidos corporais e substâncias psicotrópicas.
A detecção de leveduras de fermentação sugere que o recipiente continha vinho, já que os antigos egípcios costumavam usar uvas para fazer as bebidas parecerem sangue. Entre os fluidos corporais, os pesquisadores sustentaram que se tratava de uma mistura de sangue, leite materno e muco vaginal, nasal e salivar. Enquanto as plantas psicodélicas foram encontradas restos de nenúfar azul egípcio (lótus azul do Nilo) e arruda síria, duas espécies de plantas que são alucinógenas e sedativas. Havia também espécies de Cleome, outra planta que pode ser usada para induzir o parto ou realizar um aborto, dependendo da dose.
“Os egiptólogos acreditam que as pessoas visitavam as chamadas câmaras de Bes em Saqqara quando queriam confirmar uma gravidez bem-sucedida, porque a gravidez no mundo antigo era repleta de perigos. Portanto, esta combinação de ingredientes pode ter sido utilizada num ritual mágico que induzia o sono no contexto deste perigoso período de parto. Esta pesquisa nos fala sobre os rituais mágicos do período greco-romano no Egito”, disse van Oppen.
Referência de texto: Cáñamo
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