Parece até piada ler – e ter que explicar – isso, mas não é. Infelizmente tem quem exalte esse discurso de segregação e, inclusive, veículos dedicados ao “ativismo canábico” que disseminam essa desinformação. Cada dia que passa está ficando mais evidente os interesses que cercam o meio canábico nacional. E um grande exemplo disso são as formas de distorções das palavras, um antigo modo de manipulação e uma poderosa ferramenta que tem sido utilizada por vários daqueles que se dizem “ativistas/especialistas da cannabis (mas não da maconha)” aqui no Brasil.
Assim como “Cucumis sativus” é pepino, “Solanum lycospersicum” é tomate, “Capsicum annuum” é pimentão, “Cannabis sativa L” é maconha.
A classificação oficial com o termo “cannabis” ocorreu em 1753 pelo botânico e zoólogo sueco Carl Linnaeus, que classificou a erva como “Cannabis sativa L” (L de Linnaeus). A escolha desse nome é devido às características físicas da planta. A palavra “cannabis” significa “semelhante à cana”, por sua vez, “sativa” significa “plantada ou semeada”.
Maconha vem da palavra “ma’kaña” e é original do idioma quimbundo, uma das línguas bantas mais faladas em Angola (onde também é uma das línguas nacionais). Inclusive o português que falamos tem muita influência desta língua, que foram obtidas durante a colonização portuguesa no território angolano e através dos escravizados de Angola trazidos ao Brasil. Podemos observar a forte influência linguística em palavras usadas habitualmente como; “moleque (mu’leke)”, “cafuné (kifunate)”, “quilombo (kilombo)”, “cochilar (kukoxila)”, “camundongo (kamundong)”, “cachimbo (kixima)”, fubá (fu’ba), “caçula (kusula)”, “samba (semba)”, “jiló (njilu)” e “xingar (kuxinga)” (essa última deveríamos utilizar bastante quando formos nos referir aos que estão tentando manipular nossa planta).
Sabemos que, além da forte influência cultural, os escravizados também trouxeram consigo escondidas nos porões dos navios as sementes da erva santa, e com isso, a garantia da sobrevivência da planta milenar que era ampla e culturalmente consumida como fumo em sua terra de origem (daí vem o termo “fumo de Angola”) e que, durante os muitos anos seguintes de exploração e barbárie, foi uma das poucas pontes que os ligavam, ainda que mentalmente, à mãe África, terra dos ancestrais.
Hoje temos a certeza que é, graças à resistência natural da planta, e, principalmente, daqueles que foram escravizados, que mesmo enfrentando preconceitos e proibições, conhecemos a maconha como ela é atualmente.
Insistir em marginalizar o termo “maconha” é o mesmo que marginalizar seu significado, sua história, sua cultura e suas origens. Resumindo pra quem ainda não entendeu: Cannabis, nome científico da Maconha. Maconha, nome popular da Cannabis.
Texto por: Diego Brandon
Ativista, CEO do DaBoa Brasil, compositor e representante do coletivo Ganja Fighters
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