Alguns pacientes com transtorno de estresse pós-tramático (TEPT) preferem fazer terapia com seus parceiros. Um novo estudo descobriu que a dosagem de MDMA para ambos os parceiros durante a terapia pode melhorar com segurança suas vidas e seus relacionamentos.

O estudo publicado este mês detalha o primeiro ensaio clínico de Fase 1 bem-sucedido para o tratamento de transtorno de estresse pós-traumático em casais com o uso de MDMA em combinação com a psicoterapia assistida.

Este estudo (ao contrário dos ensaios clínicos anteriores com MDMA que trataram um paciente individual) avaliou casais em que apenas um membro foi diagnosticado com TEPT. E embora o outro parceiro não tivesse TEPT, ambos os parceiros receberam MDMA durante o ensaio.

Os resultados do ensaio clínico foram publicados no European Journal of Psychotrauma. Pesquisadores de psicologia da Universidade Ryerson no Canadá, pesquisadores da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (MAPS) e psiquiatras que administram seus próprios consultórios particulares conduziram o estudo. O financiamento do estudo veio do MAPS, e o estudo foi aprovado e monitorado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA.

O estudo empregou uma forma de terapia de casais chamada terapia conjunta cognitivo-comportamental (CBCT – sigla em inglês para Cognitive-Behavioral Conjoint Therapy). A CBCT em pacientes que lutam contra o TEPT com seu parceiro de vida ou membro da família de confiança foi desenvolvida pela primeira vez na década de 1940. Basicamente, ambos os parceiros são submetidos ao tratamento juntos, e os terapeutas tratam os dois parceiros como clientes.

Por que um paciente de TEPT escolheria a terapia conjunta em vez de receber tratamento sozinho? O TEPT pode prejudicar ou destruir relacionamentos interpessoais. Imagine uma veterana de guerra que confunde seu marido com um combatente inimigo no meio da noite. Ou imagine um sobrevivente de abuso na infância que, com o passar dos anos, se torna cada vez mais (e irracionalmente) paranoico com sua esposa. Em essência, o TEPT não força apenas o paciente a reviver constantemente seu trauma, mas também obriga as pessoas mais próximas a sofrer as consequências desse trauma.

Para este estudo, seis casais, ou “díades”, participaram do ensaio. As díades passaram por um total de 17 sessões em um período de sete semanas, bem como duas avaliações de acompanhamento vários meses depois. Apenas duas das 17 sessões incluíram a administração de MDMA.

Quando administrado MDMA, cada parceiro recebeu 75mg da droga durante a primeira sessão e 100mg durante a segunda sessão. Qualquer um dos parceiros pode completar ou aumentar sua dose inicial com uma meia dose extra após 1,5 horas de sessão. Se você não está familiarizado com a dosagem de MDMA, essas quantidades indicam que os sujeitos do estudo estavam muito drogados durante essas sessões.

“Todos os casais completaram o protocolo e não houve eventos adversos graves”, escreveram os autores do estudo. “Nossos dados iniciais indicam que o MDMA administrado em combinação com a CBCT para TEPT parece ser seguro, não parece interferir no tratamento e pode potencializar os efeitos do tratamento para o TEPT e o contexto de relacionamento mais amplo no qual existe”.

No geral, os pesquisadores descobriram que a CBCT assistida em combinação com MDMA melhorou os níveis de depressão, regulação emocional e “crenças relacionadas ao trauma” dos casais. Pacientes e parceiros que se sentiram “angustiados” com seu relacionamento no início do estudo ficaram satisfeitos com seu relacionamento ao final do estudo. Apenas um casal relatou sentir-se angustiado com seu relacionamento no final do estudo, e esse casal incluiu o único paciente que “reteve” seu diagnóstico de TEPT após o estudo.

“Este estudo inicial sugere que a CBCT conjunta facilitada por MDMA é promissora em ajudar na recuperação de traumas e alcançar resultados relacionais mais amplos não totalmente realizados com o tratamento individual baseado em evidências para o TEPT”, escreveram os autores. Os autores também afirmaram, com base no sucesso deste estudo, que iniciariam um ensaio clínico de Fase 2 para CBCT conjunta assistida com MDMA.

Em outras palavras, a terapia conjunta assistida com MDMA mostrou-se segura e eficaz para ajudar a maioria dos casais a superar os desafios diários impostos pelo TEPT. Mas é não um tratamento de milagre. Não pode ajudar a todos, mas pode se tornar uma ferramenta poderosa para o tratamento do TEPT no futuro.

MDMA, ou 3,4-metilenodioximetanfetamina, é vendido em formas adulteradas nas ruas como “ecstasy”, entre outros. Geralmente é consumido como uma droga de festa que energiza a dança e realça os sentidos, principalmente as sensações táteis durante a intimidade física.

Mas o MDMA não faz tudo parecer incrível. Também pode eliminar a ansiedade social debilitante, facilitar a abertura emocional e reconectar o cérebro de uma forma que elimina o medo associado ao trauma. E, acima de tudo, essas mudanças neurológicas positivas podem se tornar permanentes após apenas duas experiências com a droga.

No entanto, o MDMA, como qualquer droga, tem efeitos colaterais. Os autores observaram que o MDMA pode causar “diminuição do apetite, ansiedade, dor de cabeça e rigidez da mandíbula” nos participantes do estudo.

MDMA não é uma droga nova, e seu uso na psicoterapia também não é uma ideia nova. Nos anos 60 e 70, um pequeno número de terapeutas administravam MDMA durante as sessões de terapia individuais e de casais. No entanto, essas primeiras sessões assistidas com MDMA não foram ensaios clínicos.

Nos anos 80, a droga tornou-se intimamente associada à cultura rave, e o governo dos EUA proibiu o MDMA ao classificá-lo como substância controlada de Classe I – junto com a heroína e a maconha.

De acordo com o MAPS, o MDMA pode finalmente receber a aprovação da FDA até 2022.

Referência de texto: Merry Jane

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