Curitiba não tem praia, mas a maresia vai tomar conta da capital paranaense neste sábado (6) com a 11ª edição da Marcha da Maconha. O evento, que tem sua concentração marcada para às 15h na boca maldita, e que acontece também em outras cidades do Brasil e do mundo, tem como objetivo pressionar o governo para que haja uma mudança na legislação brasileira de drogas.
É preciso chapar a sociedade com a fumaça da razão para livrá-la das garras da ignorância e do preconceito. Maconheiro quer fumar camarão verde, tirado do ventre da natureza e sem adulteração em sua composição. Mas na terra tupiniquim, comprar maconha prensada com barata é mais fácil do que comprar um hot dog com batata palha prensado na chapa. A vergonha de se consumir uma erva de péssima qualidade se mistura com a tristeza de ser refém do tráfico.
“Doutor, a maconha não faz mal!” Se diz ao médico que duvida dos benefícios da erva. “Quem mata é o tráfico, doutor. Confesso que a garganta sofre com o prensado diário, mas essa é infelizmente a maconha nossa de cada dia”. Na rua, o guarda te aborda e fala “ei cabeludo, que cheiro é esse? Encosta na parede e cala a boca”. No turbilhão de pensamentos, a mente quer dizer “seu policial, no meu beck, nem sei quanto tem de maconha. A parada é 3 pá 1, mas não sei o que tem nele”. O policial solta o maconheiro, prender garoto branco é perder tempo.
Mas aí, no 3 pá 1, aparece uma semente como um presente divino. Vai pro Distrito 420 e começa a ler sobre como cultivar a própria ganja. É acomodar a semente no papel toalha úmido e só esperar a mamãe natureza agir sobre ela. Em alguns dias, já dá pra ver saindo da casca aquilo que futuramente se tornará a sedutora Maria Joana. Paciência, e cuidado, contando no calendário os dias do período vegetativo e do período de floração. A planta vai crescendo, ficando bonita, e com início de buds.
“Briiiiii” é som da campainha. Ao abrir a porta, o policial logo vai gritando “pro chão maconheiro filho da puta”. Fodeu geral, e não tem pra onde correr. “A vizinha falou que tem vinil do Peter Tosh girando e planta proibida crescendo. Vai pra delega, e a planta vai junto”. Tratamento de bandido para quem só queria ficar chapado sem prejudicar ninguém, ser brasileiro é bacana contanto que siga as regras da caretice social.
Chegando na delegacia, um moleque de bermuda suja e havaiana nos pés está sentado esperando para ser escoltado para a cela. Foi detido como trafica por uma ponta de uma baseado ruim. “Cê levou sorte garoto, vai ser enquadrado como usuário mesmo. A planta foi achada ao lado de um pacote de seda e um dichavador. Mas vai ficar fichado aqui”. Cor da pele e endereço residencial vale mais que R.G.
Perdeu a planta, e perdeu a pira. Vai ter que voltar a comprar prensado do tráfico. O 3 pá 1 não vai sair da rua enquanto maconheiro não pedir por mudanças na lei. Melhor do que fumar um beck sozinho, é fumar um baseado king size ao lado de maconheiros que tem o mesmo objetivo que você: o fim do preconceito, o fim da guerra, e uma maconha boa pra queimar.
Por Francisco Mateus
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