A maconha está intrinsecamente ligada à música. Na Música Popular Brasileira, que tem na formação de sua identidade a influência de vários estilos musicais, a combinação da erva com o violão é evidente. Em entrevista, Gilberto Gil já chegou a afirmar que a maconha é capaz de desencadear uma maior liberdade auditiva, e que tanto a Bossa Nova quanto o Reggae, pela suavidade, são gêneros que foram beneficiados pela droga.

Prova disso está no fato de o pai da Bossa Nova, João Gilberto, ter usado maconha durante os anos 50, tendo sido até apelidado de “Zé Maconha”. Para o músico, a maconha lhe despertava uma sensação mística inexplicável, capaz de aguçar sua sensibilidade para a percepção de sons e cores. Não é à toa que o disco “Chega de Saudade” é considerado um divisor de águas na MPB.

Pode ser que o “País dos Baurets” a qual os Mutantes fazem referência no disco “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets”, seja o próprio Brasil. Provavelmente depois de Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias terem queimado um ‘bauret’ com Tim Maia, é que eles perceberam que há uma forte ligação entre a planta e a música que nasce no país. O ambiente influencia a pira criativa de quem fuma, seja no Leme ou no Pontal,

Na introdução da música “Tropicália”, de Caetano Veloso, fala-se: “Quando Pero Vaz Caminha/ Descobriu que as terras brasileiras/ Eram férteis e verdejantes /Escreveu uma carta ao rei:/ Tudo que nela se planta,/ Tudo cresce e floresce”. Só o que Pero Vaz Caminha não sabia ao chegar no Brasil em uma caravela com velas de cânhamo, é que a planta seria no século XX fortemente repreendida.

Mas até em meio à repressão, a maconha não deixou de ser fonte de inspiração para ritmos e letras de música. Na verdade, foi em meio à perseguição da polícia com os maconheiros, principalmente dos morros, que Bezerra da Silva propagou um dos maiores ensinamentos aos usuários de maconha na música “Malandragem Dá Um Tempo”, com os versos  “Vou apertar, mas não vou acender agora/ Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora”.

Em mais de 50 anos, as “letras cannábicas” da MPB continuam atuais. Após abandonar o rock da  Jovem Guarda, Erasmo Carlos cantou, sob influência da música latina, o que todo maconheiro sente em relação à erva: “Eu quero Maria Joana” pois “só ela me traz beleza nesse mundo de incerteza”. A maconha vai ser sempre fonte de inspiração para muitos músicos, independente de sua criminalização. Enquanto houver sol, praia, violão e maconha, o Brasil vai continuar sendo o “País dos Baurets”.

Por Francisco Mateus

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